Primeiro um carinho para você, procrastinador. Relaxe: a culpa é do sapiens, dos nossos ancestrais que viviam por uma bola, por uma refeição, que viviam quase nada no planeta, morriam cedo demais. Fomos criados há centenas de milhares de anos para ter uma recompensa imediata. Naquela época: a vida. Ou corre ou morre. Ou sobe na árvore ou fim. Ou mata o leão ou tchau, tchau.
Anote aí para uma “desculpa”: quando você procrastina é o seu sistema límbico que tá mandando. Quando você guarda dinheiro para daqui 30 anos, quando você estuda para uma prova que só virá daqui a 25 dias, é o seu córtex pré-frontal que tá no comando. E os pedaços do seu cérebro brigam todo dia pra ver quem é o rei lá dentro.
Mas deixa eu misturar assuntos. Pense num senhor de mais ou menos 60, 65 anos de idade, com o seu neto brincando no parque. Quem me contou essa história foi um amigo, e a contarei para vocês como ele me contou: “Estava ali por perto desse vovô, com um dos meus guris, mas dividindo a atenção entre ele e o celular.
O senhor teve um jeito de contar rapidamente uma história dele. Porque notei a felicidade e intensidade que ele estava na brincadeira com o neto, já que o menino de seis, sete anos, por aí, gritava ‘vovô’ a toda hora, sorrindo e feliz da vida. Parabenizei o vovô por estar tão ali, naquele momento, tão vivendo o momento. Ele disse que não fazia mais do que a obrigação e que aquele era o grande momento da semana dele. Os olhos encheram d’água. O mundo parou pra mim. Eu tinha algo especial ali, celular foi pro bolso. Falei que ele estava emocionado e que isso era bonito. Ele consentiu, respirou fundo, chegou mais pertinho, o neto gritava ‘vovô, olha isso’, ele retribuiu e elogiou a peripécia do carinha lá. O meu, espiei, estava no escorregador, esperando a sua vez, e a cena parecia a mais linda de viver. Mas ele, já bem mais próximo, tascou uma informação:
‘Tô entregue no momento aqui com aquele menino ali porque há bem pouco tempo eu vinha com o irmão dele também. Mas esse nos deixou por um problema muito sério de saúde. Tinha nove anos. E aí prometi pra mim que nunca mais deixaria de brincar com ele ali, que nunca mais deixaria pra depois qualquer atividade com eles, que nunca mais procrastinaria o amor que sinto por ele e por aquele”.
E essa última palavra… Ele falou olhando pro céu.