Federico ficou no Brasil, óbvio. Porque não tem como trazer para a Rússia um bebê e desmamá-lo com três meses de vida. Uma pena que a natureza faça isso. Mas fique sabendo, meu filho, que a teta da sua mãe é mais importante do que uma Copa. Até você ter noção do que é uma. Copa, no caso. Pela saudade que me aperta o peito aqui no maior país do mundo, tudo, absolutamente tudo, eu penso que poderia estar fazendo com você.
E o que mais me pega são pais com seus filhotes. Um pai sorria e servia sorvete para um filho. Basta para lágrimas aparecerem e eu segurá-las. Um pai com uma filhota na garupa, vestida com bandeira da Rússia, família inteira na Fan Fest aqui de Rostov? É a deixa para Federico aparecer na memória e o aperto no osso do peito aparecer.
Todos diziam que a vida mudaria. Eu achava exagerado. Mas foi só ver a menininha feliz da vidas com a goleada anfitriã que as coisas se encaixaram. A minha primeira Copa foi a de 1986. Morávamos na Bahia, Federico, e agora eu quero que você largue a teta e preste atenção no papai!
E a parte boa de ser criança em um Mundial é que você muito mais o perde do que ganha. Vá se acostumando porque é a metáfora da vida. Lembro do choro com vergonha quando Zico errou o pênalti no tempo normal, quando Bats pegou mais o do Sócrates depois.
Ali, meu filho, na dor, se forma caráter. Se forma a casca dura para aguentar a vida real e os grupos de Whatsapp discutindo política. Por isso quero você gostando de futebol, porque nada melhor que usar o esporte como metáfora para levar lições para a vida real, onde o bicho pega.
Por isso, Federico, que papai finalmente não segurou as lágrimas na estreia da Copa. Não pelos 5 a 0 que realizaram Putin, Safin, Sharapova e Isinbaeva. E sim porque viu uma criancinha sorridente na garupa do seu pai. Algo tão simples, tão difícil com você longe aí, mas que, de agora em diante, será um sonho a ser realizado. Por nós dois. Pode voltar para a teta.
Potter está na Rússia para cobrir sua terceira Copa do Mundo. De lá, ele mandará cartas ao filho, Federico, que tem três meses e ficou no Brasil. Acompanhe as cartas aqui na coluna.