Poucas vezes uma qualificação caiu tão bem em um jogador como esta, para Gabriel Jesus. Caçula. O atacante de 21 anos não apenas é o mais jovem da Seleção Brasileira na Copa da Rússia, mas tem mesmo cara de bebezão. O sorriso largo e alguma timidez ao falar emprestam a ele um ar de ingenuidade que evoluiu para empatia imediata. Sabe aquela sinceridade infantil desconcertante? Eis o artilheiro da Era Tite, com 10 gols.
Mas ontem o menino Jesus surpreendeu por outro motivo. Minutos antes da sua entrevista, nos 20 minutos do treino fechado abertos à imprensa, Tite cumpriu a promessa. Indicou o time titular da estreia contra a Suíça no domingo, em Rostov-on-Don, às 15h. O técnico colocou coletes nos reservas, e então fez-se a luz. Nenhuma novidade, como de resto todo o planejamento que vem sendo meticulosamente cumprido pela comissão técnica. Jogam Willian, Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus. Quatro atacantes de ofício. Agora você tem uma chance para acertar qual a primeira pergunta feita para o ex-centroavante do Palmeiras. Aposto que você acertou:
– Com quatro atacantes, o Brasil não corre o risco de ficar muito vulnerável na defesa?
Foi aí que saiu o caçula tímido e entrou o jovem talento que é o preferido de Pep Guardiola no Manchester City, ao ponto de receber mensagens do catalão desejando toda a sorte possível na Copa. Gabriel Jesus defendeu com unhas e dentes a escalação de Tite, usando uma consciência tática rara para jovens talentos da sua idade. Ainda mais no Brasil, onde ainda persiste aquele embolorada máxima de que atacante não precisa marcar:
– Ficaria vulnerável se a gente não marcasse. Não é o caso. Eu sempre ajudei a marcar. Comecei na ponta-esquerda e sempre acompanhei lateral. Atacante não pode ter vergonha de marcar até o fim. Um carrinho bem dado pode ser tão importante como um passe ou um drible – defendeu Gabriel, quase constrangendo o autor da pergunta, ainda que não fosse essa sua intenção.
Além da defesa candente da escalação de Tite, por acreditar que sem a bola todos exercerão espartanamente as tarefas operários sem as quais a engrenagem não funcionará, Gabriel Jesus mostrou desassombro ao lidar com um tema que já escalou e desescalou muita gente boa na história da Seleção. Trata-se da tensão da estreia. Ele admitiu que dá um certo frio na barriga.
Há quatro anos, ele e a mãe pintavam o meio-fio da rua de casa de verde-amarelo, como forma de ajudar na corrente positiva durante a Copa de 2014. De lá para cá, numa ascensão vertiginosa que parece não ter fim, ele tem tirado estreias de letra. Foi assim no Palmeiras, ainda adolescente. Não mudou no Manchester City. Em seu primeiro jogo, teve gol mal anulado e deu assistência para um que valeu. Parecia jogar nas peladas de rua.
– Bom, ansiedade sempre tem, claro. É uma Copa. Tem um certo frio na barriga. E nunca passei por uma experiência assim, ao contrário do Neymar e do William, por exemplo. Eles dão dicas – disse o goleador de Tite, sem revelar nervosismo alguma na expressão corporal ou na face, muito menos dramatizar com pitadas de ufanismo. – Acho que tiro essa parte na tranquilidade, de boa.
O caçula só reapareceu na hora de tirar de letra o vazamento que um familiar fez nas redes sociais, ao ter acesso a um momento do treino fechado. O lance não tinha nada de mais. Um mero cabeceio. Mas entregava o time titular porque o quarteto de atacantes participava da jogada.
– A gente é jovem, então aprende com os erros. Vale para mim e para ele (o familiar que Gabriel não revelou quem era). Mas se mostrasse algo tático, eu estava mal. Aí ia levar bronca – riu o falso 9 movediço de Tite, abrindo aquele sorriso enorme e fácil.
Gabriel Jesus, o artilheiro da Seleção Brasileira, pode ser o caçula do time, mas é bem provável que seja um novato mais experiente que muitos trintões por aí. Inclusive entre os metódicos suíços.
OS ARTILHEIROS DE TITE
- Gabriel Jesus - 10 gols
- Neymar - 9
- Paulinho - 7