Ela existe. É forte e sua vida girará em como você a enfrenta. Está aí outra metáfora a fazer com o futebol, que você sabe, é o esporte mais desgraçado que existe. E isso porque o pior pode ganhar do melhor. Ou seja: você pode treinar, se dedicar e perder. E vai ser bem feito. Perder é bom.
A Copa do Mundo de 2018 tem 32 seleções. 31 perderão. A matemática é lógica e explica que você muito mais irá perder. Então vamos preparar bem essa cabecinha carequinha de hoje para perder. E está tudo certo. Você vai perder o primeiro amor da vida no colégio. Tudo certo. Você vai perder nota, você vai perder um voo – com amigos, por favor, como já lhe escrevi – você vai perder uma vaga de emprego. E assim será, meu filho, até o dia final.
Perder, se bem aproveitado, só ensina. Vitórias escondem defeitos, imperfeições e colocam para baixo dos panos falsas qualidades. Quedas não escondem. Elas escancaram. E não há louro sem dor, sem suor. E depois de uma perda vem a pressão. Ambiente melhor do mundo que uma Copa para ela não existe.
Nela se separam os "ômi dus guri". O que aguenta pressão e o que fraqueja. O que suporta um país inteiro em cima e o que está se lixando para a Copa e com o app do seu banco aberto somando lucros, e não taças.
Não lhe quero somente campeão, Federico, lhe quero focado, sereno e vou torcer para você perder muito nessa vida. Quero lhe ver chorando depois de um revés. Quero lágrimas de "não sirvo para nada". Porque depois delas vou chorar contigo junto e abraçado, olhar no seus olhos mareados e falar no seu ouvido "tem mais graça essa vitória depois daquela derrota de meses atrás, não é?!".
Talvez eu seja o primeiro pai do mundo que queira um filho que perde. Talvez eu seja assim porque gosto tanto de futebol. Nesse esporte de todos o maior ensinamento é que você só será o 1º depois de estar entre os 31. Tite? Neymar? Aguentem a pressão. Tem coisa boa vindo pela frente.
Federico? Saiba perder. Mas saiba o porquê. Talvez hoje você não entenda, mas esse pedido é amor puro.
Potter está na Rússia para cobrir sua terceira Copa do Mundo. De lá, ele mandará cartas ao filho, Federico, que tem três meses e ficou no Brasil. Acompanhe as cartas aqui na coluna.