Meu filho, esse homem pode ganhar um mundial com o Brasil. Mas pode perder também — lembra da última carta, aquela metáfora toda de fracassar no futebol e aprender para a vida? Pois que o treinador da Seleção, meu filho, é um obcecado. Ele ama o que faz. Clichê, sei. Mas não há outro caminho. E agora, quando acabo de sair da concorrida coletiva de imprensa dele, um dia antes de uma estreia em Copa, imagino Tite em uma cena milenar: rezando. Porque ele é um homem de fé. Tentarei explicá-la, guri.
Existem deuses e religiões. O homem crê em algo superior, uma força maior há séculos. Isso mantém ele vivo. Têm pessoas, Federico, que não creem. E vivem bem assim. Outras creem demais e também vivem bem. Outras tornam a vida apenas isso, e sim, podem atrapalhar. Inclusive a vida dos outros. Tite tem fé, reza, pede proteção. E na mesma coletiva disse que o Deus dele não é melhor do que o dos outros. Ele está certo, Federico. Esse é um ensinamento importante: cuidado em achar que tudo que você acredita é a verdade absoluta, a única visão possível, o caminho solitário a seguir.
Por isso ver Tite falar é bom. Ele poderia se juntar a Algir e Luis Nei e ser o seu terceiro avô. Ele certamente se ajoelharia no assoalho para lhe proteger de uma quina como pede proteção quando Marcelo sobe para atacar. Ou até, um dia, pediria para você partir para cima de um livro de estudos como deve implorar para Neymar confiar na bola de futuro melhor do mundo que possui. Tite, como já lhe disse, meu filho, é um obcecado pelo que faz.
A sensação que se tem é de que ele bebe futebol, come esquemas táticos, dança com linhas de quatro e se diverte com videos da seleção suíça. Essas pessoas apaixonadas, Federico, ensinam muito. Elas são focadas, suam, ouvem, trabalham todos os turnos, e elas, meu filho, geralmente vencem. Esse verbo tão importante que mesmo que o papai aqui não queira que você viva por ele, vai lhe cercar e pressionar em boa parte da sua vida.
Esse seu terceiro avô, Federico, seu Adenor Bachi, apelido Tite, vai lhe ensinar de longe, com suas histórias da Copa de 2018 que se você fizer tudo certinho, respeitar a todos, ter humildade para ouvir, trancar o pé em coisas que só você acredita baseadas em experiência, sensibilidade, números e amigos de confiança, a sua chance de ganhar é grande. Mas o melhor é que se perder é porque do outro lado tem perseverança, qualidade e organização.
Tite talvez nunca lhe pegue no colo e fique babando como vovô Algir. Talvez nunca chore vendo as suas fotos no grupo de Whatsapp como o vovô Luis Nei. Mas a vida, meu filhote, é observar quem faz bem, com o coração e com carinho.
Não sei se Tite será campeão dessa Copa russa. Mas esse seu terceiro avô emprestado tem tanta coisa boa a se observar que o ensinamento dessa cartinha é uma só: se aproxime, observe e estude pessoas como Tite. Elas são aquelas que você fica extremamente feliz quando as vê realizadas. Elas merecem sorrir.