O 4º Distrito, recentemente redescoberto por muitos moradores de Porto Alegre como ponto de encontro da galera que curte uma boa balada, sempre foi o meu lugar. Confesso que bate um orgulho ao ver que a minha zona está mudando de cara. Aos poucos, vai deixando de ser um local repleto de fábricas, empresas e depósitos para começar a ser uma área badalada da cidade e que busca revitalização.
É a parte da cidade na qual eu mais me sinto em casa. Sei de cor o nome de cada uma das ruas simétricas que compõem a sua geografia composta pelos bairros Navegantes, São Geraldo e Floresta. Conheço cada cantinho. As ruas têm o cheiro da minha infância. Época de muita felicidade. Da grande família completa. Pai, mãe, irmãos, tios e primos. Das festas da virada de ano embaixo da parreira na casa da nonna na Rua do Parque. Dos amigos que perambulavam comigo em todos os caminhos. Das idas ao Centro pegando o ônibus o linha 6-Zivi. Fui criança em uma fase, no início dos anos 1980, em que era possível brincar na rua.
Até hoje, em pleno 2023, gosto de pegar o carro e percorrer as ruas nas quais circulei muito a pé com os amigos e a família. Os passeios no comércio da Presidente Roosevelt. Ver as calçadas em que joguei intermináveis e disputadas partidas de futebol com a gurizada, brincava de esconder ou dava bandas de bicicleta. Que saudade da Sociedade Gondoleiros! A entrada principal ainda fica na Santos Dumont. Para acessar as piscinas, onde a turma se reunia para escapar do calorão infernal nas férias de verão, era pela São Paulo. Triste saber que ela não existe mais.
Só que um dos lugares que mais toca o meu coração fica exatamente do outro lado da rua. E está até hoje. Mesmo castigados pelo tempo, os pavilhões estão lá. É a minha querida escola estadual Branca Diva Pereira de Souza. Ou simplesmente o Branca Diva. A pessoa que sou hoje, com todos os seus erros e acertos, começou a ser construída naquele espaço desde 1981. Com muito orgulho, sou filho da escola pública. Começando pelos primeiros passos no jardim de infância, passando pelo 1º e 2º graus até chegar na universidade para cursar Jornalismo na Fabico/UFRGS, depois de muita batalha.
Na última eleição, no ano passado, acompanhando a minha irmã Regina no dia da votação, resolvi voltar a entrar no colégio da infância. Exatamente 32 anos depois de ter deixado a oitava série, em 1990. Que loucura pensar como o tempo passou tão rápido. E olhar para trás e ver quanta coisa mudou na vida. Tudo o que mudou no mundo. Caminhando por aqueles corredores largos tão conhecidos, olhando para as velhas salas de aula de teto baixo, me veio uma sensação de saudade gigante.
Inevitável não lembrar os momentos incríveis que passei dentro daquele lugar que foi tão importante na minha formação. Das tias Cida e Nazaré do jardim. Da professora Vera, que me alfabetizou. Das aulas de música da profe Mary, que depois fui reencontrar no Facebook. Até hoje, ela manda mensagens carinhosas pela rede social, me chamando de aluninho. De tantos outros educadores abnegados que passaram pelo meu caminho e tanto me ensinaram. Ah, quero dizer que sempre fui um ótimo aluno, mas que gostava de conversar nas aulas.
E como esquecer dos colegas com os quais compartilhei tanta felicidade? Alguns como o Márcio, a Ângela, a Rejane e a Michele durante todo o tempo de escola. Os jogos de futebol e vôlei na cancha de cimento. As festas juninas. A Olimpíada entre as turmas. Veio na memória até o gosto do prensado comido no recreio. É inegável que nossas melhores memórias afetivas estão na escola. Como eu queria poder reencontrar todo mundo! Saber como estão. O que fizeram da vida. Relembrar histórias. E dizer para todos, com toda a emoção e lágrimas nos olhos, como a gente era feliz! Felicidade pura. Tudo com muita simplicidade. Mas cheio de amor. Obrigado por tudo, Branca Diva!