Imagine você tendo de conviver com um inimigo silencioso, sorrateiro, ardiloso, venal e cruel. Com certeza, dá muito medo, não? Tira o sono? Preocupa? Óbvio que sim. Algo que atua na surdina, rondando a sua vida e te deixando fora do prumo. Com grande potencial de sugar as suas forças e com um poder altamente degenerativo. Após a realização da bateria de exames para o projeto Te Mexe, Gigante - uma preparação para conduzir a tocha olímpica da Olimpíada Rio 2016 - descobri que estava com diabetes millitus. E agora?
O nome é até bonitinho. Mas é uma doença mutiladora. É importante ressaltar que ela começou a fazer parte da minha vida por causa dos meus maus hábitos alimentares e também por fatores hereditários. Os Péricos tem no seu DNA a presença desse monstro, pronto para dar sinal de vida.
Confesso que me esmerei, potencializando a minha obesidade, transformando-a em algo perigoso para a minha saúde. O diabetes tipo 2 chegou com altos índices de glicemia. Na casa de 286mg/dl em jejum. Foi preciso um tratamento de choque com medicação forte, restrição total de açúcares e carboidratos na alimentação, além de atividade física. Adeus chocolates, sorvetes, balas, pizzas, massas, iogurtes, refrigerantes, cervejas, pudins de leite condensado, torta de sorvete e milk-shakes. A vida virou diet, zero, com adoçante, com farinha integral e desnatado.
A vontade de ingerir essas coisas maravilhosas acaba passando, na medida em que se pensa nas consequências nefastas do diabetes no organismo. Na vida de qualquer um, os constantes abusos alimentares podem significar uma perigosa aproximação para aumentar em escala crescente as chances de se ter um AVC (acidente vascular cerebral), uma lesão na retina com risco de perda da visão, uma insuficiência renal com a necessidade de diálise ou uma má circulação sanguínea que pode levar a amputação de membros.
Vi isso com o meu querido tio Nilo. Ele sofria com feridas nas pernas e falta de sensibilidade nas extremidades. Não querendo fazer terrorismo, é um filme de terror com final trágico.
Mas há um detalhe muito importante. Fundamental. Alentador. Conviver com o diabetes é possível. Com absoluta certeza. A mudança dos hábitos alimentares é algo que precisa de muita força de vontade. Além dos cuidados com a dieta, com a medicação cada vez mais moderna e o exercício físico sendo incorporado a rotina, é necessário fazer um controle diário do diabetes com exames que podem ser feitos em segundos. Só que é algo dolorido e inconveniente. Na real, repetitivamente chato.
Se faz um furinho na ponta do dedo, até sair uma gota de sangue. Ele é colocada em equipamento, que faz a análise do sangue com uma espécie de palheta. Depois, a plaquinha é inserida em um aparelho que apresenta o índice da glicose no sangue. Confesso que um dos meus dedos da mão esquerda está sempre cheio de furinhos.
O alívio só chega quando no visor aparece um número menor do que 99mg/dl. É mais ou menos como exorcizar um fantasma que veio me assombrar depois dos 40 anos. Na verdade, não virei santo. Durante todo esse tempo, cometi meus pecados. Não abandonei 100% as massas e as pizzas. Devoro alguns docinhos. Tomo a minha cervejinha. O refrigerante zero, mesmo fora das refeições, é quase inegociável.
O mais importante na vida é equilíbrio. Seis anos depois, a nossa relação, Lucianinho x diabetes, é dominada por mim. Eu tenho as rédeas nas minhas mãos. A ciência e os médicos estão do nosso lado para vencer essa batalha. Mas nunca devemos baixar a guarda.