A Seleção Brasileira está a cara do futebol brasileiro. Não há retoques a serem feitos. Se você quiser uma fotografia do nosso futebol, ligue a TV e assista a um jogo deste time que Dorival Júnior tenta dar forma. Ele é resultado de todos os erros cometidos domingo a domingo. Tudo isso somado se veste de verde e amarelo nas datas Fifas.
Nem adianta reclamar. Até porque todos têm sua parcela de culpa. A maior parcela dela é evidente, é a CBF. Mas o seu clube e os dirigentes dele, os jogadores, nós, jornalistas esportivos e você, torcedor, contribui todos os dias para esse cenário assustador que temos a cada jogo da Seleção.
Faz 10 anos que levamos 7 a 1 da Alemanha. Faz 10 anos que seguimos na mesma toada, repetindo os mesmos erros e discutindo o resultado, ignorando as razões dele. Houve alguns avanços desde lá, é preciso registrar. Principalmente no uso de tecnologias e dados no treinamento e na análise de jogos. Os clubes evoluíram nesse sentido, uns mais outros menos. Mas vamos combinar também que isso acontece mais pela onda mundial que nos leva junto.
Reprises
Em termos estruturais, conseguimos piorar o nosso futebol. O calendário está ainda mais inchado e mal distribuído. Pré-temporada longa é miragem. Semana livre para treinos, um sonho que só vem depois de fracassar em uma ou duas Copas e ver um furacão de crise varrer o vestiário.
Assim, técnicos não esquentam lugar o suficiente para desenvolver trabalho e, com ele evoluir. Tanto é que, hoje, se Dorival Júnior pedir o boné ou cair, não há candidato nacional forte para o lugar. Como há jogos demais e um país continental a ser singrado, os jogadores vão ao limite do esgotamento, e o nível técnico desce. Os clubes, endividados, fazem ginástica para sobreviver e vendem ontem o talento de amanhã.
Em troca, repatriam o ídolo de ontem, a peso de ouro, imaginando que ele tem a magia do futuro. Não tem. A conta não fecha, e as dívidas, crescem. A solução é vender o talento assim que ele brilha pela primeira vez. Assim, quem tem potencial de Seleção vai para a Europa antes dos 20 anos e acaba sendo moldado pelos europeus. Os clubes, para preencher esse vazio, aumentaram o número de estrangeiros para nove. Sem pensar que isso terá efeito logo ali na frente. Mais estrangeiros (muitos medianos), mesmo brasileiros emergentes nos times.
Na cabeça de tudo isso, está uma CBF que teve, em 12 anos, nove nomes ocupando a cadeira de presidente (incluindo interinos e interventores). A soma de tudo isso listado nesta coluna levou ao momento que vivemos hoje. Nem mesmo a Seleção, que sempre esteve acima desses problemas, sobreviveu. A camisa amarela, infelizmente, não é blindada.