O Gigante que emergiu das águas venceu a água. A luta do Inter contra a enchente de maio virou um documentário de 50 minutos que ganhará as telas do SporTV na noite deste sábado (7), às 22h, e depois ficará disponível no Globoplay e nas plataformas do clube.
Mais do que um relato da recuperação do Beira-Rio e da reconstrução do CT do Parque Gigante, a produção mostra um trabalho movido pela paixão e guiado pelo profissionalismo. Só mesmo a combinação desses dois elementos conseguiu colocar o estádio funcionando a pleno em 70 dias.
Há um longo caminho ainda a ser percorrido pelo Rio Grande do Sul nessa retomada pós-enchente. E o documentário deixa isso bem claro. Assim como fica muito perceptível a preocupação de todos os personagens de não descolar-se da realidade dura vivida de boa parte dos gaúchos.
O que aparece em tons de vermelho na tela é apenas uma pequena fatia do drama causado pelas águas e cujos reflexos ainda repercutirão no nosso Estado por um bom tempo. Porém, nos ajuda a lembrar de tudo o que passamos e, mais, a cobrar do poder público que nunca mais se repita.
Infelizmente, o distanciamento trazido pelo tempo ameniza o impacto em quem não sofreu diretamente com a enchente.
Assisti ao Gigantes nesta sexta (6), como convidado para uma pré-estreia. A sala de conferências do Beira-Rio, onde Roger Machado e dirigentes costumam dar sua entrevista coletiva, serviu de sala de cinema.
O lugar foi escolhido não só pelas condições técnicas que oferece. Havia um simbolismo. A sala de conferências foi inundada e ainda conserva algumas marcas, apesar da recuperação.
A zona mista, onde os jogadores passam ao final dos jogos, os vestiários, o túnel de acesso e o gramado têm sua recuperação mostrada em imagens que impactam.
Numa delas, o presidente Alessandro Barcellos mostra, na boca do túnel de acesso, a marca de onde a água chegou. Para ao lado e se espanta:
— A marca é maior do que a minha altura.
Alessandro é um dos poucos dirigentes a ter voz no documentário. Os narradores são os funcionários. Os relatos são de devoção ao clube, mostram uma relação com o estádio e o CT como se fossem extensões de suas casas.
As lágrimas do roupeiro Fabiano de Oliveira, o Buiú, ao entrar no CT e ver pilhas de camisetas de treino e jogo e chuteiras encharcadas confirmam que a relação ali vai além do trabalho.
O CT ficou 24 dias sob as águas. Em 40, foi reconstruído. Só há duas semanas voltou a ser utilizado.
Todas essas histórias vividas nos últimos quatro meses condensam o documentário que dará ao Brasil uma dimensão do quanto tem sido desafiadora a retomada do futebol gaúcho.
O roteiro e a edição são assinados pelo fotógrafo e jornalista Daniel Marenco, com quem dividi coberturas e viagens aqui na Zero Hora e no DG e compartilhei a rotina na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016.
Gigantes é uma obra com o olhar sensível do Marenco, capaz de captar o mais genuíno amor que existe na relação de um estádio com aqueles que fazem ele ter vida. Mesmo depois de ter sido coberto pelas águas.