Neste sábado (8), a Seleção Brasileira começa a se afiar para encarar a Copa América. Lá mesmo nos EUA, contra o México. Nos últimos tempos, os mexicanos nos incomodaram bastante, nos vencendo em Copa América e tirando nossa medalha de ouro em Londres. O último encontro, porém, faz tempo. Foi há seis anos, na Copa da Rússia. Vencemos, 2 a 0, atuação de gala de Neymar, cartão amarelo de Casemiro e prenúncio do que viria depois contra a Bélgica.
História pessoal
Estava lá naquele jogo, na calorenta (no verão) Samara, a cidade que é o centro aeroespacial da Rússia. Tanto que o estádio tem arquitetura de um asteroide. Todo metálico, fez o calor daquele dia se elevar alguns graus. Cheguei a ter um mal-estar antes do jogo, tanto era o calor. Não guardo boas lembranças de Samara.
Ah, foi lá que aconteceu uma das histórias que ficaram daquela Copa. Quando cheguei com a equipe da RBS para embarcar rumo a Kazan, descobrimos que a minha reserva havia caído. Só havia uma saída: ir de carro. O Rafael Cechin, coordenador da cobertura, chamou um Yannie, a versão russa do Uber. Um Kia Soul chegou, conduzido por um russo com cara de russo e tamanho de russo. Calvo e com bigode espesso, o Aleksander parecia ter saído direto da Guerra Fria.
Kazan, no Tartaristão, ficava a sete horas dali. Minha preocupação era se, às 20h30min, o motorista estava descansado para encarar uma viagem que entraria a madrugada.
— Estou bem, comecei a trabalhar agora — respondeu.
Logo ofereci um café, em um diálogo travado pelo Google Translate. A viagem seguiu. O Aleksander ali, seguro no volante. Quando entramos no Tartaristão, ele parou para abastecer. Tomou um café, pagou outro para mim e entabulamos uma conversa. Em determinado momento, ele contou que recebia duas aposentadorias. Dirigia apenas para não ficar em casa, entediado.
— Duas aposentadorias? — perguntei.
— Sim. Eu era policial especial.
— Da KGB? — indaguei.
— Não, mas eu caçava terroristas.
Me esforcei e segui a conversa mostrando naturalidade. Chegamos a Kazan por volta das 3h. O restante da equipe, no avião, precisou ir a Moscou e voltar. Chegou só por volta das 7h no hotel. Todos esgotados e sem ter feito um amigo que caçava terroristas na União Soviética.
O jogo de 2018
Enfim, ao falar de Brasil x México lembrei dessa história da Copa. Um dia ainda vou escrever um livro sobre essas coberturas. Esse jogo estará registrado como a vitória que precedeu a dor da queda para os belgas. Era minha primeira Copa fora do Brasil, e eu tinha muita fé de que, no mínimo, estaríamos na final. Bom, não foi assim.
Na noite deste sábado, as duas seleções voltam a se encontrar após quase seis anos. Pode parecer pouco, mas já faz tempo. Endrick, por exemplo, tinha apenas 11 anos em 2018. Vini Jr. se apresentaria no Real semanas depois. E Rodrygo havia estrado no Santos sete meses antes. Temos uma Seleção novíssima, com potencial para ser bem melhor do que aquela de 2018, que era de ótimo nível.
Naquela tarde, na Arena Samara, a Seleção enfrentou dificuldades na etapa inicial contra o México de Ochoa, Vela, Chicharito e companhia. Os 22 primeiros minutos foram aterrorizantes para os brasileiros.
Diferentemente do que estavam acostumados, os comandados do Tite sofreram mais do que o normal no início do confronto. Miranda, Thiago Silva e Casemiro se desdobravam para bloquear os chutes mexicanos, que por coincidência, estavam hospedados no mesmo hotel da RBS. Lembro, inclusive, de ter batido um rápido papo com o técnico Juan Carlos Osório.
Bom, depois desse começo assustador, o México recuou a marcação e passou a dar espaços. O Ochoa, goleiro que já havia incomodado o Brasil em 2014, naquele 0 a 0, passou a tirar tudo.
Foi apenas no segundo tempo que vieram os gols. Neymar, que vinha sendo criticado por uma atuação discreta na fase de grupos e com a fama de "cai-cai", decidiu responder. Fez uma bonita jogada na frente da área, conduziu em direção ao meio e deixou de calcanhar para Willian. Neymar seguiu correndo e aparou o cruzamento no meio da área.
O segundo só veio aos 43 e também saiu de jogada de Neymar. Ele arrancou, chegou à área e chutou. No rebote de Ochoa, Firmino fez. Houve um pequeno Carnaval em Samara, que se seguiu em Kazan. Até Lukaku, Hazard e De Bruyne nos mandarem de volta para casa. No outro dia, eu e o Gabardo pegamos o Transiberiano para Moscou. Mas essa é uma outra história.
As escalações de Brasil 2x0 México em 2018:
Brasil: Alisson; Fagner, Thiago Silva, Miranda, Filipe Luís; Casemiro, Paulinho (Fernandinho), Coutinho (Firmino); Willian (Marquinhos), Gabriel Jesus e Neymar. Técnico: Tite.
México: Ochoa; Alvarez (Jonathan dos Santos), Salcedo, Hugo Ayala, Gallardo; Rafa Márquez (Layún), Herrera, Guardado, Vela, Lozano; Chicharito Hernández (Raúl Jiménez). Técnico: Juan Carlos Osorio.
Histórico do confronto:
- 24 vitórias do Brasil
- 7 empates
- 10 vitórias do México
*Colaboração: Leonardo Bender