O Real Tomayapo deixou Tarija, no sul da Bolívia, festejado. Pela primeira vez em seus 25 anos de vida, usou o passaporte para jogar. O clube vive nesta Sul-Americana o seu sonho. Há cinco anos, quando a família Solíz assumiu o comando, o Tomayapo estava nas bordas do descenso para a quarta divisão.
A quarta divisão da Bolívia, como você pode imaginar, é futebol amador. Por todo esse crescimento em meia década, há um misto de euforia e incredulidade na região. "Toda a gente aqui está muito emocionada", me disse por telefone o presidente do clube, Edman Solíz.
Não é para menos. Trata-se de um dos menores orçamentos do futebol boliviano. Que está longe de ser endinheirado. Segundo me contou Edman, o orçamento anual é de US$ 1 milhão (R$ 5,04 milhões), quase 100 vezes menor que o do Inter. Ou seja, um terço da folha do Inter paga o ano todo do Tomayapo. A folha salarial está em US$ 75 mil (R$ 378 mil). Um reserva no Beira-Rio, como Wesley ou Hyoran, paga o grupo todo do adversário desta quarta-feira.
O Tomayapo é um clube de família mesmo. Edman e dois primos iniciaram o projeto, em 2019. Ele havia participado de corridas de rally, apoiado pelo pai, empresário com atuação em importação de pneus. Os custos de rodar a Bolívia para cada etapa ficaram altos. Foi quando veio a ideia de assumir o clube da cidade. No primeiro ano, se livraram do descenso. No segundo, subiram para a Segunda Divisão. No terceiro, bateram na trave para chegar à elite. O que veio no ano seguinte.
A essa altura, o pai, a irmã, tios e outros primos haviam se juntado ao projeto. São 10 sócios. Só um é de fora da família. "Mas é uma pessoa muito próxima, aqui de Tarija", explica Edman. A irmã, engenheira e dona de empresas de alimentos, assumiu as finanças. Colocou a casa em ordem, virou presidente do clube e, agora, acabou de ser eleita para o comitê executivo da Federação Boliviana.
O clube tem as contas em dia, gestão organizada e aposta alto na revelação de talentos, garimpados no sul boliviano. Atualmente, as categorias de base contam com 200 garotos, dos cinco aos 20 anos, que treinam em campos cedidos pelo governo local. Algumas revelações já foram negociadas com Bolívar e Always Ready. O caminho, Edman sabe, é longo. Porém, com algumas conquistas. Essa de jogar em um estádio de Copa, contra um clube brasileiro, com selo Conmebol, é uma delas.