Foi assim. Saí aqui do hotel em que a RBS nos hospedou, eu e o Zé Alberto Andrade, em Madri, desci o Paseo de La Habana. Ao chegar na Plaza de los Corazones Sagrados, peguei à direita. Caminhei menos de 300 metros e, de repente, emergiu diante de mim um gigante de metal. Encravado no meio de uma zona residencial, com prédios de sacadas amplas, está o Santiago Bernabéu, remodelado, mas ainda em fase final de obra. Sua capa de aço inoxidável confere um aspecto futurista. É como se, no meio do bairro de Los Corazones Sagrados, tivesse aterrissado uma nave espacial gigante.
Florentino Pérez, um dos empresários da construção civil em Madri e dono de uma visão aguçada de negócios, pretendia transformar o novo Bernabéu em um ícone da capital espanhola. Posso dizer, sem medo de errar, que atingiu seu objetivo antes mesmo de tirar os tapumes que circundam o estádio e remover o último guindaste do estádio. Há ainda obras internas e todo o paisagismo do entorno, que transformará o estádio no centro de uma praça gigante. Mas nada disso ameniza o impacto ao bater de cara com o palco do Real Madrid.
O estádio é favorecido pela localização. Está a 20, 25 minutos do Museu do Prado, a meio caminho da Puerta de Alcalá e da Fuente de Cibeles, um dos pontos mais simbólicos de Madri e endereço das festas dos títulos do Real. O Civitas Metropolitano, por exemplo, casa do Atlético de Madrid, está quase fora da cidade. Claro que, se bem localizado, mais benéfico é, mas o que faz do Bernabéu um endereço de peregrinação dos turistas futeboleiros é a aura que acabou ampliada pela reforma.
Neste domingo (24) sem futebol, por exemplo, havia um dezenas de pessoas no entorno, tirando fotos, caminhando ou simplesmente contemplando o estádio. O tour, mesmo limitado a um passeio pelas arquibancadas com vista para o campo, espiada nas obras visita ao museu, estava concorrido. Quem havia comprado por antecipação e tinha hora marcada, pagou 25 euros. Para quem chegou em cima da hora pagava 30 euros.
O programa, claro, acabava na loja. Ela ainda está com ar de improviso, com os setores um tanto espalhados no andar superior — o primeiro pouco oferecia além dos caixas. Porém, estava abarrotada. Uma camisa oficial saía 160 euros (mais de R$ 800). Um kit infantil, com calção, camisa e meia, 145 euros (cerca de R$ 780).
Havia a opção da reserva, para os pequenos, um pouco mais em conta, por 90 euros (quase R$ 500). A impressão ao se entrar na loja do Real é de que se ingressou no mágico mundo dos 25 euros (R$ 135). Uma manta? Não menos do que 25 euros. Uma garrava de água personalizada? Também 25 euros. Um boné? Igualmente 25 euros. Até há itens mais baratos, mas se contente em levar, daí, um chaveiro ou outra quinquilharia.
Na metade do ano, no auge do verão, o Real pretende finalizar as obras e fazer uma solenidade de entrega do estádio pronto. Nessa última etapa estará brindada a loja, posicionada na entrada principal, na Avenida de Concha e Espina. Os acessos do lado oposto, das áreas VIPs e da imprensa já estão com a cara do novo projeto. O grosso da reforma já está pronto. Embora, de grosso, pouco tenha essa reforma. O Real investiu pesado e buscou tecnologia de ponta para fazer do estádio um espaço, de fato, multiúso.
O gramado, como você já deve ter visto, é dobrado e guardado no subsolo. Assim, é possível receber eventos de qualquer ordem e, no dia seguinte, abrigar um jogo sem que o campo tenha sido afetado. A NFL, por exemplo, já reservou data no Bernabéu em 2025. O teto retrátil pode ser fechado em 15 minutos e permite que feiras, shows ou qualquer outro tipo de evento esteja livre dos humores do clima. Um telão com 360 graus permitirá todo tipo de interação e representa uma nova fonte de receitas.
O plano do Real é pagar com o Bernabéu o próprio Bernabéu. No final do ano, a assembleia de sócios aprovou um novo empréstimo 370 milhões de euros (aproximadamente R$ 2 bilhões). O total gasto bate em 1,17 bilhões de euros. É o dobro do que havia sido orçado. A guerra na Ucrânia, alegam, inflacionou tudo. O clube planeja pagar 60 milhões de euros anuais. O financiamento é de 30 anos. A projeção é de que o estádio tenha receita bruta de 400 milhões de euros na temporada 2024/2025, a primeira com o estádio 100% pronto.