Falar com um multicampeão como Paulo Paixão é sempre um privilégio. Mas falar com ele e perceber tanto entusiasmo é inspirador. Aos 72 anos, o preparador pentacampeão, campeão do mundo e tri da Libertadores mostra um ímpeto juvenil neste retorno ao futebol, integrando a comissão técnica de Roger Machado no Juventude. Nesta terça-feira (30), depois do treino no CT do clube, ele conversou por telefone com a coluna. Confira.
Como está sendo esse retorno ao dia a dia de vestiário, à rotina do campo?
Optei por cuidar da saúde, agradeço a Deus por me permitir fazer essa escolha. Coisas da vida, acontecem. Veio essa oportunidade no Juventude, essa nova página. A vida sempre tem uma nova página para você escrever. Estou muito orgulhoso por estar aqui. É a terceira força do Estado, encontrei um clube organizado, com propósito. Isso para mim é tudo. É só entrar com as ideias, o planejamento. Tem tudo para a gente, com toda a comissão, equipe de apoio e comando do vestiário, desenvolver o trabalho.
Essas primeiras semanas têm sido em que toada?
Falo muito para os jogadores que tem algo a melhorar: se estivesse aqui "roubando" do clube, seria fácil. Chegaria com o nome e ficaria só gerenciando, levando o tempo. Tem de ser sempre pelo que é certo. Toda hora vamos falar com o jogador, planejar, conversar a fisiologia, com os médicos, preparar o trabalho. Isso me fascina.
Esse é um ponto que sempre admiro no senhor, essa energia, esse entusiasmo de estar no dia a dia, mesmo já tendo ganho todos os títulos.
Isso (do dia a dia) me traz vida, é uma coisa que estou pulsando. Quando não tiver mais isso, paro, porque estou sem emoção, desinteressado. Estamos sempre buscando a perfeição. Ela não existirá se você não buscá-la. É como o topo, nunca sabemos onde ele é. Quando se chega nele, quer ir além. É isso que me faz pulsar de alegria, de felicidade, me dá ânimo para trabalhar.
Há alguns dias, conversei com o presidente Fábio Pizzamiglio, e ele me falava do investimento, com o dinheiro da LFF, no CT. Que estrutura o senhor encontrou?
Justamente isso que me fascina. Hoje, os maiores clubes do mundo, Real, Barcelona, Flamengo, a Dupla, estão estruturados, com capacidade de dar ao profissional as melhores condições. Eles foram todos um dia o Juventude. Para chegar aonde eles estão, tem de se estruturar. É o que vejo que o Juventude está fazendo. O clube está se estruturando, tem terreno para fazer coisa do outro mundo. Se não começar a fazer, nunca vai ter. É fascinante porque se percebe que não chegou a um clube acomodado. Pelo contrário está buscando assegurar aos profissionais que cheguem aqui e se sintam orgulhosos daquilo que vão desenvolver.
Como foi iniciar a temporada com o trabalho já em andamento?
A temporada se iniciou aqui no dia 4. Nós chegamos no dia 11. Encontramos um trabalho desenvolvido pelos profissionais que estavam no clube. Você há de convir que cada um tem sua vocação. Encontramos uma linha de trabalho correta e estamos dando seguimento, Mas é muito jogo em cima de jogo. Sábado, agora, pegamos o Ypiranga. Éramos sabedores dessas dificuldades. Temos de estruturar o trabalho e equilibrar o planejamento. O Gauchão é raiz mesmo. Quem amam o futebol não pode descartar esse lado.
O planejamento é ter o time pronto fisicamente depois da quinta rodada?
Temos buscado, dentro das convicções, dar em dose homeopática esse trabalho de força. Estamos ainda em período de preparar uma base e deixar essa fase anaeróbia e aeróbia para o jogo. A partir do sétimo, oitavo jogo é que se ganha ritmo melhor. Quanto à preparação, conto com a semana livre da rodada da Copa do Brasil para implementar trabalhos que permitam absorver melhor condição para quem ainda precisar de algo específico. Na verdade, o trabalho de preparação é sempre individualizado. Nos deixa realizado fazer esse mapeamento do grupo.
Como é essa relação com o Roger? Me lembro de vocês no Grêmio dos anos 1990, o senhor como preparador, ele como jogador. Agora, dividem comissão técnica.
O comando do Roger, por ter estudado, é muito importante. Quando você está com um técnico que é estudado, facilita a compreensão de algo que você coloca sobre uma rotina ou atividade. Ajuda demais aqui termos encontrado um ambiente favorável, de acesso à Série A, o clima é o melhor possível. Manter esse nível é o desafio. Queremos ir além do topo.
Como o senhor tem visto esse começo de Gauchão?
Alguns clubes disputaram competições até 7 de dezembro, e muitos já estavam trabalhando visando o Gauchão. Hoje, todo mundo sabe trabalhar, o campeonato tem muitos preparadores, fisiologistas e treinadores experientes, que sabem do que o grupo precisa. Vêm jogar contra a gente, que começou mais tarde, e atropelam. Vejo valorização grande dos clubes do Interior. Inter e Grêmio mantiveram a base. O Caxias está forte. Estamos chegando, é importante que se tenha personalidade para, através da nossa força, mostrar o trabalho.