Em outubro, você leu na coluna a informação de que o Bayern negociava a compra do Racing, de Montevidéu, do Uruguai. Era um passo dos bávaros para criar uma unidade sua na fábrica de "pé de obras", como certa vez definiu Eduardo Galeano a quantidade de jogadores que surgiam no país de 3 milhões de habitantes. Pois nesta quinta-feira (14), o Racing-URU emitiu nota confirmando a sua venda para o gigante alemão. O dono do clube e que assina a nota é Fernando Cavenaghi, aquele mesmo que passou pelo Inter sem muitos gols em 2011.
O Racing passará para o controle da Red Gold, uma empresa criada neste ano pelo Bayern e pelo Los Angeles FC. Cavenaghi seguirá como acionista do Racing, mas minoritário. Na carta, fica clara a intenção dos novos donos: "Desenvolver novos talentos internacionais para os primeiros times do Bayern e do LAFC".
O futebol uruguaio virou um ambiente de investidores e clubes estrangeiros. Peñarol, Nacional Danubio, Defensor, Liverpool, além de alguns poucos pequenos, ainda são associativos. Porém, clubes como Boston River, Deportivo Maldonado, Plaza Colônia e Rentistas são SAD, a SAF deles, Inclusive, a Fifa sugeriu durante intervenção na AUF que, tirando Nacional e Peñarol, todos os demais virassem SADs.
O caso mais notório, é claro, é do Montevideo City Torque. Até três anos atrás, o Torque era um dos tantos clubes pequenos da Capital. Seu maior êxito recente tinha sido lançar para o futebol Jonathan Álvez, aquele que jogou no Inter. O que dá uma ideia da simplicidade do clube. O City Group comprou o time e o transformou. Levou-o à Copa Sul-Americana por dois anos. Nesta temporada, porém, caiu.
O objetivo, no entanto, passa longe do esportivo. O City Group quer é buscar os talentos direto na fonte. Assim, em vez de gastar na compra, investe na formação em seu modelo de jogo e preparando-o para a vida fora da América do Sul. Sem contar que, estando nas competições de base e profissional pelo país e pela América, dispensa relatórios dos scouts. Seus próprios profissionais fazem o garimpo. Tudo isso a pouco mais de 800 quilômetros de Porto Alegre. É como digo, ficamos de costas para a fronteira de um país que revela talentos numa proporção sem igual no mundo.