Rogélio Funes Mori é o centroavante na órbita do Grêmio. É mexicano de documento e argentino de nascimento e coração. Mesmo que tenha defendido o México na Copa de 2022 e enfrentado Messi e companhia no jogo decisivo da fase de grupos, Rogélio não tem como ser mais argentino.
Os Funes Mori são mais uma daquelas famílias que deixaram o país na crise de 2001, do corralito de Domingos Cavallo, que limitou a 250 pesos (US$ 250) por semana os saques que cada argentino poderia fazer. O pai, motorista da YPF, a petrolífera do país, perdeu o emprego. Sem esperança e com três filhos para criar, buscou uma vida melhor em Dallas.
Na primeira tentativa, seis meses depois, a mãe e os três filhos, os gêmeos Rogélio e Ramiro e Martina, tentaram entrar nos EUA. Foram barrados. Voltaram para casa, juntaram dinheiro e mudaram o plano. Entraram por Miami, com alegação de que iriam à Disney. A família se reencontrou, enfim. Os gêmeos entraram na escola e começaram a vida americana. O futebol esteve sempre presente. Apos 15 anos, eles participaram de um reality show no FC Dallas. Eram 5 mil meninos. Rogélio ganhou, Ramiro foi quinto. O prêmio era jogar no Dallas. Mas no time B.
Como o futebol de base ainda era muito incipiente, eles sentiram que ali não seria o melhor caminho. Em um dia, no estádio, o pai abordou o chileno Jorge Avial no estádio. Avial era olheiro do Chelsea. O pai só pediu que ele olhasse os dois guris jogando do lado de fora do estádio. Alvial foi. Na hora, pegou o telefone e ligou para seu superior em Londres. Levaria dois guris de 16 anos para testes. Só que o caminho era sem volta para os gêmeos. Estavam ilegais nos EUA. Ou ficavam no Chelsea, ou buscavam novo rumo.
O Chelsea, por falta de passaporte europeu, dispensou os guris. Foi quando eles pararam no River. Um ano depois, em 2008, Rogélio estreou como profissional. Os dois estavam no time que caiu e subiu da Segunda Divisão. Rogélio passou pelo Benfica e pela Turquia antes de chegar ao Monterrey, onde fez história. Agora, perto do fim do contrato, tem tudo para desembarcar em Porto Alegre. Quem sabe reencontre o irmão na Libertadores. Ramiro voltou ao River este ano.