O roteiro foi perfeito. Domingo de sol, horário aprazível para o futebol, jogo contra um gigante, virada épica e um herói jovem, saído do banco de reservas. O Inter teve tudo isso e festejou com o Beira-Rio rugindo o 2 a 1 sobre o Flamengo, o clube dos superlartivos: maior orçamento, maior folha salarial, melhor grupo, maior estrutura e um dos melhores técnicos da América do Sul. Isso tudo explica o entusiasmo colorado, a apoteose na hora do churrasco de quem veste vermelho.
A vitória mostrou também o DNA desse Inter, de um time que cresce contra os gigantes porque joga à sua feição, se entregando em cada dividida, marcando como se fosse a última partida da vida e fechando caminhos à espreita do vacilo do adversário. O primeiro tempo foi totalmente assim. Um duelo tático. Mano e Jorge Sampaoli transformaram o campo em tabuleiro de xadrez e duelaram em cada quadrado dele.
O Flamengo propondo, o Inter se desdobrando para anulá-lo. Os cariocas tiveram muito mais a bola (61%), os gaúchos mais desarmes e mais interceptações. Quando recuperava a bola, o Inter saída rápido, mas tropeçava em suas limitações técnicas. O Flamengo, quando avançava, parava em barricadas. Campanharo foi uma afirmação. Ígor é um zagueiro que sabe ser lateral. Renê manteve sua média. Wanderson e PH bloquearam os lados. O Inter foi sólido. Porém, não foi pontiagudo no ataque.
No segundo tempo, foi possível ver que um outro Inter também é possível. Mano adiantou as linhas e criou embaraços ao Flamengo. Alemão, embora todo o empenho e carisma, ainda carece de melhores tomada de decisão e acabamento. Caíram nos pés dele as melhores chances. O jogo de xadrez do primeiro tempo se tornou esgrimido no segundo.
O que fez prevalecer a qualidade do Flamengo. O gol de Gérson começa com saída com a mão de Santos, passa por Thiago Maia e chega até ele. Primeiro, teve o drible na intermediária em Renê que descortinou o campo. Depois, veio a pintura digna do futebol brasileiro raiz, da calçada, do espaço curto, da habilidade construída na rua. Gérson transformou um metro quadrado em latifúndio.
O gol fez Mano mudar. Maurício, De Pena e Luiz Adriano entraram. O formato não mudou, mas o eixo do jogo, sim. O Inter ficou ofensivo e foi premiado. Mauricio fez gol no primeiro e no último toque na bola. Foi o herói de um Inter que mostrou sua cara no Brasileirão. Que oferece a este Inter jogos que são à sua feição e ajudam a inflar sua confiança. Como foi este do domingo perfeito.