Quando a discussão de uma lista de convocados para a Copa do Mundo está centrada no lateral-direito reserva, podemos concluir que ela foi uma boa lista. Houve poucas surpresas, na verdade, entre os 26 eleitos de Tite para buscar o Hexa no Catar.
Daniel Alves acabou sendo o centro do debate, pelos seus 39 anos e pelo fato de vir de um semestre ruim pelo Pumas, do México. Ruim e no meio-campo. As razões que justificam essa escolha estão bem mais localizadas em aspectos correlatos ao campo do que propriamente técnicos.
Daniel está embarcando para o Catar pela sua liderança e por ser referência em um grupo cujo setor ofensivo é praticamente todo formado por jogadores com menos de 25 anos. Mais, são 16 estreantes em Copa.
Daniel sempre foi uma das vozes do vestiário na Era Tite. Foi assim no ciclo de 2018, quando perdeu o Mundial por lesão na reta final. Mesmo de fora, foi almoçar com o grupo no hotel em Kazan, na véspera da partida contra a Bélgica.
Há ainda um outro fator que embasa sua convocação. Nunca será admitido pela comissão técnica, mas contar com Daniel no vestiário significa ter alguém que consegue entrar na mente de Neymar e acalmá-lo nos momentos de estresse. Que não são poucos quando o mundo está de olho no nosso principal jogador. Neymar, quando desembarcou no PSG e em seu vestiário melindrado, levou Daniel junto, como uma espécie de guia e irmão mais velho.
Daniel sabe exercer sua liderança. Não à toa, esteve na Olimpíada como um dos três acima de 23 anos. No aspecto técnico, Tite sabe a medida em que pode contar com Daniel. Seus laterais já não precisam cumprir os 120 metros de campo. Defendem formando linha de quatro, como faz um lateral, mas atacam como meio-campistas, por dentro, deixando o flanco liberado para os extremas, no caso da direita, Raphinha. Danilo, é bom frisar, começará a Copa como titular. Daniel será alternativa a ser lançada no decorrer dos jogos. Ou até mesmo para entrar desde o começo, caso o titular precise ser preservado por cartão numa terceira rodada.
Em resumo, a grande novidade da convocação é alguém que está longe de ser novidade. Além de ser um reserva. O que indica que a lista de Tite pouco foge do cenário construído nesse ciclo de quatro anos e 50 jogos. Aliás, durante a coletiva, pouco se falou de Neymar. Ou seja, a estratégia de levar Daniel começou a dar resultado.
A aposta de Tite é uma certeza para os europeus desde os 13 anos
Aos 21 anos, Gabriel Martinelli ganhou de nomes graduados a corrida por vaga no Catar. Um deles, Firmino. Embora não joguem na mesma posição. Mas é que com Rodrygo sendo alternativa como meia por dentro, abriu-se espaço para um extrema destro que atue pela esquerda.
Martinelli chegou ao Arsenal em 2019, por R$ 30 milhões. Havia sido destaque do Ituano no Paulistão daquele ano. Mas não foi por essa campanha que os ingleses vieram buscá-lo. Desde os 13 anos, ele estava no radar dos olheiros europeus. Na época, estava na base do Corinthians (foi para o Ituano porque a família trocou Guarulhos por Itu). Ainda adolescente, foi levado para treinos de observação por Manchester United e Barcelona.
Tite o convocou pela primeira vez em março, para jogos contra Bolívia e Paraguai. A Seleção já estava garantida na Copa, e o guri aproveitou a chance. Ele voltaria na lista seguinte, em junho, para amistosos contra Coreia e Japão.
A ideia construída por Tite para a seleção na Copa completou um ano
O que veremos com a Seleção em campo no Catar foi formatado e ensaiado desde novembro, quando o Brasil enfrentou Colômbia e Argentina pelas Eliminatórias. Ali, a equipe ganhou a forma que vemos hoje. Vinícius Júnior entrou contra os colombianos no intervalo. Substituiu Fred, com Paquetá recuando para a segunda função do meio. Ali, Tite passou a usar dois extremas agudos e iniciou uma busca por um centroavante, para ser referência e suporte aos avanços de Neymar por dentro.
A Seleção que veremos será com duas variações. Uma delas, mais robusta, terá Casemiro e Fred como volantes, Neymar e Richarlison por dentro e Paquetá e Vini Júnior ou Raphinha pelos lados. A outra, mais aguda e que será usada contra defesas mais fechadas, terá os dois extremas, Vini e Raphinha, e Paquetá vindo de trás, como um segundo do meio.