Dos mais de 200 milhões de treinadores brasileiros que surgem nas vésperas de uma Copa do Mundo, era difícil encontrar alguém que não colocasse Raphinha na sua lista de 26 convocados. Mesmo com a alta probabilidade de o atacante do Barcelona ser relacionado para jogar no Catar, a família Dias Belloli ainda vivia a expectativa de o jogador ser chamado por Tite nesta segunda-feira (7).
Entre a divulgação de Alisson, o primeiro nome anunciado pelo treinador, e a confirmação da presença do atacante nascido na Restinga, foram 70 segundos de apreensão. O silêncio feito na casa em que os familiares se reuniram na zona sul de Porto Alegre demonstrava que tratava-se de um momento dos mais relevantes.
Durante a marcha da lista, parecia que todos queriam que Raphinha fosse rebatizado com um nome que começasse com A para aplacar logo a aflição. Quando chegou a vez da revelação dos atacantes, veio Antony, veio Gabriel Jesus, veio Gabriel Martinelli, veio Neymar, e nada. Veio ainda Pedro para, só depois, ser ouvido o anuncio ansiado.
— Rrrrrrraphinha, Barcelona
O silêncio foi quebrado com uma festa com cerca de 30 pessoas capaz de produzir o barulho de um estádio lotado. Richarlison, Rodrygo e Vinícius Júnior, os últimos anunciados, que desculpem, mas os pais, tios, avós, tias, tios e primos não tinham ouvido para mais nada. Todos estavam uniformizados em frente à TV para ver o sonho de uma vida ser realizado.
Lisiane, a mãe, passou a convocação toda em contato com o filho. Era um olho na TV e outro no celular. Ainda com os corações batendo acelerado, uma chamada de vídeo foi realizada para aumentar a algazarra. O jogador não tinha ideia de que todos estavam reunidos em sua homenagem.
— Está tranquilo agora? Gostou da surpresa? Te desejo todo sucesso. Um beijo no coração — comentou a mãe, durante o rápido contato.
— É uma emoção ver que ele atingiu os objetivos. Fizemos essa surpresa para mostrar para ele que estamos tão longe, mas estamos perto ao mesmo tempo. Para mostrar que o amor da família nos une — explicou, em suas primeiras palavras com um filho mundialista.
Rafael, o pai, foi às lágrimas abraçado com seu pai e seu irmão, considerado pelo atacante da Seleção na Copa o melhor meia-esquerda do mundo, conforme autógrafo na camisa.
— Passa um filme na cabeça. Passa tudo aquilo que a gente passou, que ele passou. Estou em choque. Em êxtase, como no primeiro jogo dele pela Seleção. Na verdade, nem sei onde estou — revelou.
"Tudo aquilo que ele passou" significa a superação da origem humilde na Restinga, da sequência de "nãos" recebidos em testes em clubes, da necessidade de tentar a sorte fora do Rio Grande do Sul até conseguir ingressar na base do Avaí aos 17 anos, momento da carreira em que muitos jovens despontam como promessa. O périplo até a estreia como profissional terminou somente em Portugal, em 2016. Foi tudo isso que ele passou.
Seis anos depois, Raphinha é figurinha de Copa. Enquanto os parentes aguardavam a convocação, os cromos eram o assunto. O álbum de Lisiane contava com a Seleção Brasileira completa, graças ao envio das figurinhas devido à presença do filho no colecionável. A emoção de abrir o pacotinho e ver a foto dele só foi sentida no fim na semana passada.
— Estranho, né? Passamos vendo fotos de desconhecidos e agora estou colando a do meu filho — disse antes de colocar a figurinha no álbum no espaço personalizado atrás da capa.
No segundo andar da casa, há toda a memorabilia da carreira de Raphinha. São troféus e camisas de todos os clubes defendidos pelo jogador.
O espaço agora aguarda mais duas peças. A primeira está garantida, o uniforme que será usado no Catar. O segundo será a camisa canarinho com a sexta estrela bordada. Como prevê um pai tão orgulhoso quanto esperançoso.
— Sinto que está vindo coisa boa.