Uma cidade de 10 mil habitantes encravada em meio a um vale verdejante, de ares bucólicos daqueles que vemos apenas em filme. É tão interior de Minas que está a cinco quilômetros da divisa com o Rio. Ou seja, era distante do noticiário e das manchetes.
Também pudera, haja manchete para abarcar os 853 municípios mineiros. Como você sabe, Minas Gerais é o Estado da federação com o maior número de prefeituras. Só que, graças ao Tombense Futebol Clube, a pacata Tombos não apenas entrou no noticiário mineiro, mas virou assunto nacional.
Estreante na Série B, deixou o amadorismo apenas em 1999. Foi quando se iniciou o projeto de Lane Gaviolle, um ex-jogador do Vasco e filho da cidade, em parceria com Eduardo Uram, um dos principais agentes de jogadores do Brasil e que já tinha desenvolvido projeto semelhante no Figueirense.
O plano deu certo. Tanto que, três anos depois, o Tombense (e não A Tombense, como dizemos) subiu para a elite mineira e não desceu mais. Foi vice mineiro em 2020, perdendo para o Atlético-MG, de Jorge Sampaoli, na final. Foi campeão do Interior em 2020 e 2021. No âmbito nacional, ganhou a Série D em 2014 e, até o acesso em 2021, estava na Série C ganhando casca.
O planejamento para a Série B é mais ou menos parecido. O clube pretende fazer um estágio mais longo para só depois pensar em ocupar um lugar na elite. Mesmo que tenha donos, no caso Gaviolle e Uram, o clube tem gestão de empresa, mas ainda não virou uma SAF.
A parceria entre eles começou e 1997, com a base. Em 2009, Uram e sua empresa, a Brazil Soccer, decidiram expandi-la para os profissionais. Jogadores vinculados ao empresário passaram pelo clube e ainda hoje formam a base do clube que colocou a pacata Tombos no mapa.
Ah, e por que Tombos? Por causa da cachoeira com três quedas d'água, ponto turístico da cidade. Aliás, em sua região central, há outra cachoeira, essa com balneário, concorrido no verão em que o calor bate perto de 40ºC.
Nomes famosos
Lucas Paquetá, titular de Tite na Seleção e ídolo do Lyon, e Evanilson, ex-Fluminense e atual titular do Porto, são jogadores que tiveram vínculos com o Tombense. Nunca chegaram, de fato, a jogar em Tombos. Porém, por terem a carreira agenciada por Eduardo Uram, acabaram em algum momento tendo percentuais dos direitos ligados ao clube. Os veteranos Juan, ex-lateral do Flamengo, e Íbson, não. Esses atuaram pelo Tombense. Íbson gostou tanto que virou morador da cidade.
Carcará
Nos anos 1960, o Tombense mandava os jogos em um campo que tinha um significativo desnível entre um lado e outro. A estratégia nos jogos em casa era simples: no primeiro tempo, atacava para cima. No segundo, para baixo. Assim, na reta final dos jogos, se aproveitava da vantagem topográfica e partia para cima dos adversários, como um gavião carcará, ave da região que dá rasantes para pegar suas presas.
Lobos da estrada
O Tombense é, certamente, o time com a maior milhagem da Série B. Instalado na zona da mata mineira, Tombos está a 350 quilômetros de Belo Horizonte. Do Rio, são outros 350 quilômetros. Portanto, qualquer jogo fora exige um extra de quatro horas de ônibus antes do avião. Quando joga em casa, também viaja, cerca de uma hora, até Muriaé, onde manda suas partidas, já que seu estádio, o Almeidão, ainda não tem condições.