O jogo, a boa atuação do Inter no primeiro tempo, a queda no segundo e o enfrentamento de alto nível contra o Corinthians se tornaram irrelevantes. Assim como ficou sem sentido fazer qualquer análise técnica sobre uma das grandes partidas do Brasileirão até aqui.
Nada neste fim de semana foi mais central do que a denúncia feita por Edenilson de que foi vítima de um ato racista cometido pelo lateral-direito Rafael Ramos. É sério, é grave e, mais do que tudo, é triste. Rafael Ramos nega a acusação. Diz que usou uma expressão comum no português falado em Portugal, onde nasceu e cresceu como jogador e que nada tem a ver com a palavra "macaco".
É evidente que se faz necessária uma investigação profunda. Mas tem algo incontestável nesse episódio: Edenilson ouviu o ato racista. Pode ser que tenha escutado mal e se confundido? Pode ser. Mas a sua reação indignada, seu transtorno e os diálogos travados naqueles minutos comprovam que ele ouviu.
Há nesse episódio uma carga forte pregressa. O futebol é, sim, um ambiente lotado de preconceitos. De todas as formas. É um ambiente conservador, e como tal demora a entender que o mundo mudou. Mais, só agora começa a entender que não é um universo dentro do mundo e, por isso, está autorizado a seguir códigos próprios.
Não há lado positivo no episódio de sábado. Quando um jogador se revolta por ter escutado um xingamento racista e o outro, que nega a acusação, vai preso e só é liberado depois de pagar fiança, fica impossível ver aspecto positivo. O desfecho do sábado, no entanto, nos traz uma luz, um alento para o futuro.
Edenilson não silenciou. Por ele, pelos seus filhos, pela sua família, pela sua raça, pela sociedade, ele não silenciou. E é isso que todas as vítimas de preconceito devem fazer.
Tempos atrás, e nem são tantos, casos como esses ficariam no campo, no máximo em uma conversa de vestiário. Só que o mundo mudou, e o futebol começa a perceber isso.
Edenilson procurou Justiça. Pode ser que a investigação mostre, ali na frente, que Rafael Ramos tenha dito, mesmo, o palavrão "F.-se, C.", como ele sustentou. O que Edenilson fez foi obrigá-lo a provar isso. E a obrigação de provar, vamos combinar, não é da vítima.
Talvez esse tenha sido o grande avanço de um sábado de dor e tristeza. Infelizmente, esse é um preço alto que pagamos para que avancemos. Mas é preciso avançar. Até pouco tempo, se ouvia calado e se seguia calado. Agora, felizmente, não mais.