O Ypiranga começou o Gauchão acelerando, e fecha esse primeiro terço da fase classificatória como uma das boas notícias. Com três vitórias e uma derrota apenas, mostrou suas credenciais com uma atuação de luxo contra o Inter, no sábado.
O desafio nesta quinta rodada será o Juventude, pressionado por recuperação diante de sua torcida. Com uma das menores folhas do campeonato, o Ypiranga mira longe. A meta imediata é a semifinal do Gauchão, mas o objetivo é chegar à Série B. Em 2020 e 2021, bateu na trave.
Neste ano, todo os passos foram dados para montar um time competitivo e que se encaixasse nas ideias de jogo do técnico Luizinho Vieira. A coluna conversou com o executivo Farnei Coelho para entender mais desse Ypiranga.
Como foi essa montagem de grupo?
Fizemos um diagnóstico do grupo e vimos que havíamos perdido muitos jogadores de 2021, quase todos eles, destaques na temporada. Usei aqui a mesma estratégia adotada na minha passagem pelo Nova Mutum (foi campeão mato-grossense em 2020). Ou seja, toda a contratação passava por mim, pela direção, pelo nosso analista de desempenho, Robson de Lima, e pelo Luizinho Vieira e sua comissão técnica. Se os quatro aprovassem o nome, abríamos negociação. Tudo foi feito em cima de pesquisa dos nossos bancos de dados. Só o Rodrigo Carioca, atacante, veio por indicação de empresário. Todos os demais, nós que fomos atrás para contratar.
Como funciona esse banco de dados?
No ano passado, acabei com mais tempo por causa da pandemia, e montei o meu banco de dados. Observei todos os Estaduais e anotei cerca de 30 nomes de cada. Se acrescentarmos os nomes de atletas da Série B, tenho ali no arquivo quase mil nomes. Cada nome que pinçava dali, passava para o nosso analista de desempenho, para ele observar e buscar mais informações. Houve nomes que o Luizinho Vieira trouxe do banco de dados dele, já monitorava. São, principalmente, jogadores que atuaram com ele. O Carlos Alexandre, zagueiro, e o Guilherme Amorim são exemplos. Outros jogadores que vieram já estavam no banco de dados do clube, como o Gedeílson, lateral-direito, o Edson, goleiro, e o Marcão, zagueiro.
O garimpo precisou ser mais refinado por causa do orçamento?
A nossa folha é uma das menores do Gauchão. Mas não só por isso precisamos ser seletivos. A comissão técnica pediu jogadores com intensidade alta e boa qualidade de passe, para se encaixar na ideia de jogo do Luizinho Neto. Optamos, assim, por montar um grupo jovem. Só temos o Hugo Almeida, centroavante, com mais de 30 anos. A média de idade do time que vem atuando é de 24,9 anos. Temos muitos jogadores nascidos em 1998 e 1999. Outra, o Lorran fez base no Atletico-MG, o Matheuzinho, no América-MG, o Falcão é do Avaí. Esses caras já estiveram lá em cima e querem voltar.
O clube paga em dia, o Adilson (Stankiewicz, presidente) e a direção são espetaculares, pensam no clube, entendem o lado humano do jogador
FARNEI COELHO
executivo do Ypiranga
O Ypiranga está pronto para dar o salto?
O clube está extremamente estruturado. Agradeci pessoalmente ao Renan (Mobarack, executivo que trabalhou no clube entre 2017 e 2021 e está no Caxias). Havia uma coisinha ou outra que precisava melhorar. Trouxemos apenas um assessor de imprensa e uma nutricionista. No restante, aproveitamos tudo o que havia ficado. Nosso departamento médico é fantástico. Na véspera do jogo contra o Inter, para você ter uma ideia, tivemos uma palestra com o psicólogo do clube. Os jogadores contam com toda a estrutura. Por exemplo, aqui, o dia 5 é dia 5 mesmo. O clube paga em dia, o Adilson (Stankiewicz, presidente) e a direção são espetaculares, pensam no clube, entendem o lado humano do jogador. Todos os atletas moram em bons apartamentos, estão bem instalados e contam com a estrutura do clube, que é reforçada pelos profissionais de qualidade da cidade. Para eles e a família.
Isso cria um ambiente extremamente positivo e ajuda a convencer o jogador a abraçar o projeto.
Olha, os treinos aqui são a amostra de que estão felizes. Os jogadores trazem os filhos, antes de começar o trabalho, o campo parece uma creche. Acaba o treino, os jogadores ficam com os filhos, brincando no gramado. As mulheres deles ficam na arquibancada, esperando. Um ambiente muito familiar. Esse foi um grupo muito tranquilo de abraçar. Não tivemos até agora nenhum problema de indisciplina.
Como a cidade enxerga este momento do clube?
A cidade, no início, tinha alguma desconfiança, havia chegado muitas caras novas, como eu, o Luizinho e boa parte do grupo. Houve uma ruptura, saíram pessoas que estavam aqui há um bom tempo. Outra, jogadores que não tinham tanto destaque em 2021, como Erick e Luiz Felipe, permaneceram. Havia desconfiança em relação a eles. Hoje, já percebemos uma mudança. Depois do jogo do Inter, principalmente. Alguns jornalistas que cobrem mais de perto nosso dia a dia tratam a vitória de sábado como a maior da história do Ypiranga.
Qual a meta do Ypiranga no Gauchão?
É a semifinal. Quando o Adilson me ligou, na primeira conversa, me disse: "Estou te trazendo porque nosso objetivo é chegar à semifinal do Gauchão". Trabalhamos com 18 pontos para atingir esse objetivo. Faltam, portanto, três vitórias.
A distância e as viagens são um desafio? O Ypiranga será o dono da maior milhagem do Gauchão?
Neste ano, faremos seis jogos em casa e cinco fora. O que, se não estou enganado, dá esse título ao União Frederiquense, que jogará seis fora. Nesta semana, acabamos sendo privilegiados. Vamos jogar em Caxias, na quinta-feira, contra o Juventude, e em Porto Alegre no domingo, contra o São José. Faremos tudo numa viagem só.
Quase todos os jogadores tem contrato até o final da Série C
FARNEI COELHO
executivo do Ypiranga
O grande objetivo é o acesso para a Série B. Será possível manter o grupo?
Esse é o grande desafio, Trabalhamos em cima disso desde agora. Quase todos os jogadores tem contrato até o final da Série C, mas há cláusula de liberação em caso de proposta das Séries A e B. Abrimos conversas para retirá-la e valorizar alguns deles.
A vizinha Chapecó é a inspiração do Ypiranga?
Temos duas referências. Uma delas é o 15 de Campo Bom, o Luizinho Vieira trabalhou e jogou lá, trouxe essa referência. A outra é Chapecó, por ser da região. A questão de realmente ter um clube da cidade, fortalecer essa marca, temos muito em comum. Independentemente de o torcedor optar por Grêmio ou Inter, queremos que ele torça também pelo Ypiranga e fortaleça esse vínculo com o clube e a cidade. Para isso, buscamos montar um time que jogue e não fique apenas atrás, dando balão. O Inter, quando foi campeão mundial, tinha jogadores buscados no 15 e no Caxias. A Dupla não olha mais para o Interior. Para mudar isso, repito, é preciso jogar e não ficar apenas atrás.