O tetracampeão Jorginho fechou o turno como um dos vitoriosos neste Brasileirão. Em 12 jogos no comando do Cuiabá, tirou o time da parte baixa da tabela e o posicionou na primeira página. O momento é tão positivo que o clube deixou de ser rival do Grêmio na luta contra o Z-4.
Porém, Jorginho faz questão de frisar: a luta do time é justamente essa, evitar o rebaixamento. Neste sábado (11), o Cuiabá vem a Caxias do Sul encarar o Juventude, seu parceiro de acesso e também de caminhada na elite. Por telefone, conversei com Jorginho. Confira:
Como está sendo esse começo de trabalho?
Está sendo muito legal. Acho que a vantagem que tive de assumir é que o Luís foi meu auxiliar por três anos e estava aqui, como interino. Nos conhecemos muito bem, todas as informações foram me passadas, de forma clara. Naturalmente, tive minha percepção do grupo. Por ela, achei que seria melhor mudar o sistema, que era o 4-3-3. Adotei o 4-2-3-1 e o 4-4-2, com losango no meio. Passamos a ter mais jogadores na área do rival, pisando nela. O Cleison e o Pepê, por exemplo, passaram a entrar mais na área para arrematar. O Cuiabá vinha de quatro derrotas e quatro empates. Logo, tivemos dois empates em sequência e a vitória sobre a Chape, a primeira da história do clube na Série A.
O Cuiabá está pronto para se instalar na Série A?
É um clube de 20 anos apenas. Mas tem todas as contas em dia, paga salários de padrão razoável para bom dentro do cenário brasileiro. As premiações são boas, tudo certinho, nunca atrasa nada. O clube está se estruturando. Tínhamos um CT com um campo e um segundo está pronto. Um CT para a base, a três ou quatro quilômetros desse que temos, está sendo erguido. O grupo é enxuto, 25 jogadores, mas, nesses 11 jogos sob meu comando, está comprometido.
O que você tem passado para os jogadores como meta?
Eles entenderam a metodologia, a filosofia de treinos. Compraram a ideia de ter o objetivo claro de permanecer na primeira divisão. O ambiente é maravilhoso. Estamos avançando. Ainda não é uma certeza de que o objetivo será buscado, mas estamos no caminho.
Você falou de mudança no sistema. Pode explicar um pouco mais?
Gosto de preencher o meio-campo, com um cara que faz a cabeça do losango ou o tripé com os volantes. É o meia, não tinha esse jogador. Adaptei o Osman e o Cleison. Agora, temos o Yesus Cabrera, colombiano. Entrou em três jogos seguidos, está recuperando a forma. É aquele homem que pensa o jogo. O Cleison tem muita qualidade, mas vai para o um contra um, gosta de atuar pelo lado esquerdo. Temos ainda dois jovens promissores para a posição, o Lucas Cardoso e o Riquelme.
O Cuiabá buscou jogadores e técnico de Série A, para que trouxessem essa experiência na elite. O quanto isso tem agregado nesta estreia?
Eles (dirigentes) sabem disso. O grupo que subiu tinha alguns com experiência de Série A, mas eram poucos. Por isso, vieram Valter, Paulão, Cleison, por exemplo. Disputei Série A e Série B. Subi Vasco e Coritiba e posso dizer: é diferente uma divisão da outra. No Vasco, sofri um pouco porque tínhamos jogadores acostumados com a Série A jogando a Série B.
"Esse clube tem grande possibilidade de ser potência no futebol brasileiro"
JORGINHO
técnico do Cuiabá
Como alinhar jogadores de elite com a meta do clube, que é seguir na Série A?
O Cristiano (Dresch, diretor executivo) está ciente disso. Trocamos muitas ideias, conversamos muito, para fazer com que os jogadores estejam focados e comprometidos. Na terça-feira, tivemos uma reunião com todos os atletas e conversamos. Alcançamos o objetivo traçado para o turno, de 24 pontos. Para muitos, foi uma surpresa, mas não para nós. Agora, não podemos baixar a guarda.
O que esperar desse jogo contra o Juventude, que está em um processo parecido com o do Cuiabá?
Assisti ao jogo contra o Corinthians. O Marquinhos está fazendo um grande trabalho. Montou uma equipe consistente, que joga com a linha alta, pressiona o adversário. Por isso, eu insisto; não dá para relaxar no Brasileirão.
Com essa pontuação, é possível imaginar que dá para buscar algo além de escapar do Z-4?
Vamos conforme avança a disputa, é um passo de cada vez, um dia depois do outro. O que falei aos jogadores é que, primeiro, temos de buscar o mais rápido possível a pontuação que nos garanta a permanência. Depois, aí sim, podemos pensar em outra situação. Pensar diferente disso pode fazer com que o grupo se desconcentre. Somos os caçulas da Série A, somos operários e temos de trabalhar muito. No momento em que alcançarmos nossa pontuação, podemos pensar em algo maior. Sul-Americana não é nossa realidade hoje. Temos é de cravar os pés na elite. Esse clube tem grande possibilidade de ser potência no futebol brasileiro.
O que o faz apostar nisso?
É sadio financeiramente, não tem dívidas, pertence a uma família que tem negócios fortes no setor de borrachas, está numa região em que o agro é fortíssimo. Você não imagina o quanto trafega de caminhão aqui. Quando vamos para o CT novo, passam 20 caminhões para cada três carros. Quando o Cuiabá se firmar na Série A, o investimento será forte, além de ele contar com verbas de quem joga na elite.
O clima interfere muito no dia a dia de trabalho?
É bem diferente. Estou bem acostumado com o calor, por ser carioca e por ter trabalhos sociais no subúrbio do Rio, muito próximo de Bangu. Lá é quente, mas não como aqui. A umidade do ar, já peguei aqui com menos de 10%, é muito abafado, você não fica suando. Por um lado, é um ponto favorável contra os adversário. Mas não dá para treinar pela manhã, por ser quente demais. Começamos as atividades às 16h. Por volta de 16h40min, o sol já baixa. Aí, vamos até perto das 18h, quando está escurecendo.
Por fim, no domingo, o Guilherme Pato voltou a ter chance. Como ele está evoluindo?
É um jovem promissor, atacante de lado, tem potencial de finalização muito grande. É jogador que ocupa o corredor de lado direito, muito forte. Cada vez mais estamos trabalhando com ele, martelando que o extrema hoje precisa também se posicionar na parte defensiva. Não é necessidade de marcação, mas de estar preparado para evitar que os adversários recebam a bola livres. Acredito que ele crescerá cada vez mais. Em alguns anos, estará muito preparado para se afirmar no Inter.