Tite aproveitou o longo inverno em quarentena para implementar uma revolução na Seleção Brasileira. Ele resetou seu time, atualizou suas ideias e mostrou por que é o melhor dos nossos técnicos, bem à frente dos demais.
Torço muito pelo Tite, pelo grande sujeito que é, pela trajetória que construiu e pelo profissional inquieto que se tornou. Tite odeia a zona de conforto. Sempre foi assim. Me lembro de entrevistá-lo depois da Copa de 2014. Havia passado a temporada 2013 em casa, depois de sair do Corinthians como multicampeão.
Revelou que aproveitou o tempo livre para estudar. Não foram poucas as vezes em que foi passar fim de semana em Buenos Aires, para assistir a jogos do Campeonato Argentino. Queria entender aquelas linhas de quatro tão bem usadas pelos hermanos. Naquela tarde em que o entrevistei, ao lado do grande repórter Jones Lopes da Silva, batemos à porta do apartamento de Tite, no bairro Praia de Belas, na hora marcada. Na TV da sala, um jogo do Barcelona, que retomaria depois da conversa.
É essa inquietação de Tite que nos brindou com uma Seleção Brasileira renovada em nomes e na forma de jogar. Foi contra a Bolívia, você pode dizer. Sim, foi. Mas nem falo do placar. Foi 5 a 0 e, se tivesse sido sete ou oito, não seria exagero.
O grande fato da estreia nas Eliminatórias foi o Brasil jogando de uma forma que havia muito tempo não víamos. Tite saiu da caixa. Adotou um modelo de jogo próprio. Neymar virou um legítimo camisa 10. Divide com Coutinho a armação. Renan Lodi, 22 anos, jogou como um ponta-esquerda. E como jogou. É a melhor notícia surgida na Seleção depois da Copa 2018.
Atrás de Lodi, Douglas Luiz, a dar-lhe suporte, mas também arquitetando o jogo. Na direita, Danilo guarda mais posição e forma quase uma linha com os dois zagueiros e Casemiro. Everton Cebolinha joga sobre a linha, como ponteiro à moda antiga.
Nem tente definir essa ideia de jogo em um esquema de números. Trata-se de processado por Tite para seu uso exclusivo. Tomara que dê muito certo. Tomara que, nesta terça-feira, contra o Peru, se mantenha o alto nível da estreia. O sucesso deste modelo de jogo será também o sucesso do futebol brasileiro. Ou, no mínimo, a indicação de novos caminhos e a prova de que não precisamos importar ideias.