Tudo deu certo para o Grêmio. A venda de Arthur para a Juventus é um negócio de 10 milhões de euros, já que envolve a ida do bósnio Pjanic ao Barcelona. Porém, por exigências contábeis e para obedecer ao fair play financeiro da Uefa, o clube catalão teve de colocar em seu balanço que fechará amanhã uma venda de 72 milhões de euros.
Com isso, os 3,5% aos quais o Grêmio tem direito pelo mecanismo de solidariedade se tornam 2,5 milhões de euros (na cotação atual, R$ 16 milhões). Caso fosse registrada a troca e mais 10 milhões de euros, seriam enviados para a Arena 350 mil euros (R$ 2,1 milhões).
A sorte, claro, é precedida pelo trabalho. O Grêmio colhe agora os resultados de uma estratégia de gestão adotada a partir de 2015, quando Romildo Bolzan Júnior assumiu a presidência depois de eleito em outubro do ano anterior. A partir dali, o negócio futebol seria alicerçado numa fórmula simples, mas que parece incompreensível para os clubes: formar, obter algum resultado técnico significativo e vender.
Em um mercado formador e vendedor como o do futebol brasileiro, parece até obviedade. Mas não é. Porque, historicamente, dirigentes costumam olhar de forma mais aprofundada para a base apenas quando a água começa a subir e bater no peito. É quando lançam garotos, reequilibram as contas com a venda deles e, quando o dinheiro começa a engrossar nos balanços, voltam a gastar em medalhões.
Não se faz time apenas com guris. Nunca deu, nem nunca dará certo. Mas se monta times com os guris sendo o alicerce. Sempre foi assim nas conquistas do Grêmio. Em 1981, Ênio buscou nomes como Paulo Roberto, Casemiro e Odair. Em 1983, havia, além dos dois primeiros, Renato, Baidek, Paulo Cézar. Em 1995 e 1996, estavam lá Roger, Emerson, Carlos Miguel, Arilson.
O Grêmio multicampeão de Renato tinha Walace, Jailson, Arthur, Luan, Pedro Rocha, Everton. Essa breve lista – e aqui estão apenas alguns nomes – é a cristalização do plano estratégico do Grêmio. Que nada tem de inovador. Pelo contrário: é tão velho como o futebol. E nunca falha. Como provam os R$ 16 milhões que virão da venda de Arthur.
Caldeirão catalão
Arthur chegou a passos rápidos para o treino de ontem no campo Tito Villanueva, o principal do CT do Barça e batizado assim em homenagem ao técnico do clube que morreu de câncer em 2014. Entrou no círculo onde estavam os demais jogadores, que esperaram a chegada de Messi e Suárez.
Logo, a roda se fechou para que Arthur tomasse a palavra e comunicasse a todos da sua saída ao final da temporada. Até lá, no entanto, o ex-gremista prometeu empenho e devoção ao grupo para buscar as conquistas da La Liga e da Liga dos Campeões – se o Barça faturar esta última, o Grêmio coloca mais 1 milhão de euros na conta, por bônus previsto em sua venda, lá em 2018.
O problema é que nem o empenho de um exército de Arthurs parece capaz de tirar o Barcelona da crise. Os resultados ruins e as atuações opacas deram a liderança do Espanhol ao Real e expuseram um conflito dos jogadores com o técnico Quique Setién. No sábado, no 2 a 2 com o Celta, um auxiliar do treinador tentou duas vezes dar orientações para Messi na parada técnica e ficou no vácuo.
As câmeras flagraram também um estresse dele com Rakitic. Depois do jogo, o uruguaio Suárez disse que os jogadores davam o máximo e, para corrigir problemas no campo, havia o treinador. Nesta terça-feira (30), o Barça recebe o Atlético de Madrid, às 17h. Uma derrota pode decretar o fim do sonho do título espanhol.