É o mesmo futebol jogado no mundo inteiro, mas com o jeito americano de fazer esporte. A Major League Soccer (MLS) completa 24 anos em 2020 com 26 clubes espalhados pelos Estados Unidos e pelo Canadá e exibindo ao mundo o modelo de negócio que fez do basquete, do futebol americano e do beisebol máquinas de dinheiro. Saiu da gestão dessas modalidades a receita usada para, enfim, fazer o futebol emplacar em um país que enxerga o esporte mais pela força do que pela técnica.
O sucesso do futebol nos EUA, evidentemente, não é abastecido pelo campo. O nível com a bola rolando está longe de empolgar. O segredo está na gestão. É ela que faz a MLS cativar o público. Aliás, aqui um detalhe: a média de pagantes na temporada foi de 21.721 pagantes. Um total de 9,14 milhões de torcedores foram aos estádios nos 421 jogos de 2019. O número é expressivo, mas já causa inquietação porque a média ficou abaixo dos 22 mil depois de dois anos. Para comparação, ela foi um pouco maior do que a do Brasileirão, 21,3 mil pagantes.
Para turbinar uma liga cujo nível do futebol é mediano, a MLS importou regulamentos de outras modalidades. Diretor-executivo do Grêmio até o final de 2018, André Zanotta acabou de fechar sua primeira temporada no FC Dallas e viu por dentro como é o modo moldado pelos americanos para a gestão do futebol.
Na última semana, já com o vento gelado derrubando a menos de 0ºC a sensação térmica em Frisco, Zanotta começava a preparação para buscar no superdraft alguns dos reforços. O draft é só um dos métodos replicados de ligas como a NBA e a NFL. Os donos das franquias - e não clubes - se reúnem para recrutar talentos recém saídos das universidades.
A edição 2020 será entre os dias 9 e 12 de janeiro e já tem os naming rights vendidos para a Adidas. Em parceria com o Twitter e a ESPN, haverá transmissão ao vivo, com câmeras flagrando as reações de dirigentes e atletas, além de equipes nas sedes dos clubes. Tudo com os fãs engajados na rede social.
O draft terá quatro rodadas em que cada clube poderá fazer uma escolha. Ao todo, estarão disponíveis para recrutamento 104 atletas. No final de novembro, já houve um draft com atletas livres no mercado ou colocados à disposição pelos clubes.
— Não há compra e venda de jogadores no mercado local. Tudo funciona na base de trocas. Por exemplo, mandei um lateral para o DC United, e eles nos deram a primeira escolha deles no draft. Você também pode trocar vagas de estrangeiros — explica Zanotta.
Para se encaixar no gosto do americano, que não vive sem a adrenalina do mata-mata, a MLS segue o formato das competições como NBA e NFL Há a temporada regular, nas conferências leste e oste e depois os jogos eliminatórios.
Para que essa banda toque afinada, os clubes obedecem as rígidas normas financeiras. Estourar o orçamento é proibido e há limite de gastos. O teto de salário anual é US$ 550 mil (R$ 4 milhões).
Porém, para atrair os olhares estrangeiros, foram criadas regras de exceção. São elas que permitiram, por exemplo, que Ibrahimovic fosse jogar no L.A Galaxy, e os campeões mundiais Pirlo e David Villa, no New York FC. Eles eram os designated players. Cada clube pode ter até três. Mesmo que ganhem milhões em salário, no orçamento consta como se fosse o teto. Essa manobra ficou conhecida como Lei Beckham, já que foi criada para que o inglês jogasse na MLS.
Beckham gostou tanto que, a partir de 2020, o Inter Miami, criado por ele, será um dos estreantes na liga, ao lado do Nashville. Em 2021, o Austin FC será a cara nova. Mas não chegará sozinho. Um 28º integrante sairá de uma lista de interessados em ingressar em um negócio que tem estádios lotados, marketing pesado e, o melhor, risco zero de rebaixamento. Até porque, no modelo americano, o show tem de continuar.