A supremacia demonstrada pelo Flamengo neste ano, com as conquistas do Brasileirão e da Libertadores após a montagem de um elenco que custou mais de R$ 150 milhões, ligou o alerta nos outros grandes clubes brasileiros. Como competir com o Rubro-Negro, que deverá manter quase todos os titulares para 2020 e ainda disponibilizar reforços para o técnico Jorge Jesus?
Em 2019, a dupla Gre-Nal sofreu com o poderio do Flamengo. O Inter foi eliminado pelos cariocas nas quartas de final da Libertadores sem conseguir bater o rival em nenhum dos jogos. Foi derrotado por 2 a 0 no Maracanã e apenas empatou no Beira-Rio. Já o Grêmio caiu na semifinal, quando sofreu no Rio de Janeiro uma goleada de 5 a 0, sua pior derrota na história da competição.
Os feitos tornaram o Flamengo o time a ser batido, mas também um modelo a ser seguido. O Palmeiras, que tem poder de investimento parecido, também decidiu apostar em um treinador estrangeiro – tenta contratar o argentino Jorge Sampaoli – e promete uma grande reformulação em seu elenco. Sem a mesma capacidade financeira, Grêmio e Inter precisaram adotar outros caminhos para desafiar o Rubro-Negro.
— Não é impossível, mas é improvável para Grêmio e Inter vencer o poderio e a potencialidade econômica do Flamengo nas próximas competições de pontos corridos. Vale algo parecido em relação ao Palmeiras, embora o exemplo de vulnerabilidade das grandes estruturas esteja exatamente no clube paulista. Com o dinheiro que tem e o elenco que construiu, o Palmeiras não conquistou nada em 2019. Faltou algo no processo. Houve oscilação. A dupla Gre-Nal tem de se manter equilibrada institucionalmente, buscando cada vez mais projetos de investimento em marketing e categorias de base — avalia o colunista de GaúchaZH José Alberto Andrade.
A visão de que competir com o Flamengo em pontos corridos se tornou quase impossível para os gaúchos é compartilhada por outros analistas ouvidos pela reportagem. O comentarista dos canais ESPN Gian Oddi acredita que a chance dos outros clubes vencerem o Brasileirão em 2020 depende muito mais de uma queda do Rubro-Negro.
— Competir no campeonato de pontos corridos é muito difícil. Isso passa por uma queda considerável do Flamengo. O Flamengo precisa piorar muito para que se possa competir com ele. Isso não vale apenas para Grêmio e Inter. No Brasileirão, a chance de título com o Flamengo desse jeito fica muito difícil. Talvez apenas o Palmeiras investindo muito possa conseguir — analisa.
Critérios nas contratações e uso base
Com menor capacidade de investimento, Grêmio e Inter precisarão ser certeiros em suas contratações. O comentarista do Esporte Interativo/TNT e do Yahoo Alexandre Praetzel ressalta que os dois clubes não podem gastar dinheiro com jogadores que pouco acrescentam aos times.
— É preciso ter calma e critério. Se for para contratar André, Rômulo, Galhardo e Capixaba, é melhor fazer uso a base. O mesmo vale para Parede, Neilton e Bruno. Se há bons valores na base, os clubes têm de colocá-los para jogar. Se joga muito dinheiro fora nos clubes brasileiros — defende.
Quem tem visão semelhante Mauricio Saraiva, o comentarista da Rádio Gaúcha e da RBS TV e colunista de GaúchaZH, que não vê o time carioca como invencível.
— O único combo possível na competição com o Flamengo para dupla Gre-Nal é a mistura perfeita da qualidade da base com a contratação pontual certeira. O mercado para o Flamengo sorri oferecido. Para o Grêmio e o Inter, desconfiado. Por quê? Porque um está com liquidez em alta, os outros dois não podem competir. Mesmo assim, não é nem será um Flamengo imbatível — acredita o comentarista da Rádio Gaúcha e da RBS TV Maurício Saraiva.
No aproveitamento dos garotos, o Grêmio tem vantagem em relação ao Inter. Titulares da equipe em 2019, Everton, Jean Pyerre e Matheus Henrique saíram da base. Nomes como Pepê, Darlan e Ferreira já aparecem como próximos a se tornarem peças-chave na equipe. No lado colorado, Nonato, Heitor e Bruno Fuchs surgiram em 2019, mas ainda sem se consolidarem como titulares, e o aparecimento de outros nomes no time de cima ainda é uma incógnita.
— O Grêmio tem mais talentos da base. Não vejo isso no Inter. Acho que Bruno Fuchs foi bem no Colorado. No Grêmio, daria mais chances para Patrick e Darlan. Colorados sofrerão com Coudet, porque o imediatismo será grande com ele — observa Alexandre Praetzel.
Prioridade nas contratações
Em relação ao Grêmio, laterais são as posições tratadas como prioridade. O clube ainda precisa, de acordo com as análises, de um volante, um goleiro e um centroavante para o time atender aos desejos da torcida. No caso do Inter, as duas laterais, o meio-campo (um volante e um meia) e dois atacantes são tratados como fundamentais para Eduardo Coudet conseguir levar o clube de volta aos títulos.
As avaliações
José Alberto Andrade, colunista de GaúchaZH
"No departamento de futebol, a ordem precisa ser a certeza nas apostas, dentro e fora do campo, como fez o Santos que investiu num projeto capitaneado por um grande treinador que geriu um grupo mediano e o levou ao vice-campeonato brasileiro. O Flamengo, mesmo que esteja num momento maravilhoso, vai oscilar. Isso é natural no futebol, como aconteceu com Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Os demais clubes têm que estar prontos para aproveitarem esta oscilação. Não há margem para longos processos".
Diogo Olivier, colunista de GaúchaZH
"Só existem dois caminhos que se completam. O primeiro é olhar com carinho para a base, sem desistir deste ou daquele no primeiro semestre quando atuações irregulares vierem. Jovens oscilam. É a regra. Não dá para desistir deles rapidamente. O outro caminho é contratar cirurgicamente. Sem milhões e milhões para contratar os melhores à rodo, Grêmio e Inter têm de identificar carências e centrar fogo nelas. Exemplo: atacante e meia para o Inter; centroavante e lateral-direito para o Grêmio".
Arnaldo Ribeiro, comentarista do SporTV
"Em termos de investimento e contratações, não tem como Grêmio e Inter competirem com o Flamengo nem com o Palmeiras. Nenhum outro clube fora esses dois tem esse poder. Para clubes como a dupla Gre-Nal, São Paulo, Corinthians e outros, a missão é traçar as próprias metas dentro das possibilidades. No Grêmio, com o trabalho do Renato seguindo, será mais simples observar os reforços necessários. Já o Inter é outra situação, será um início de trabalho com um técnico estrangeiro. Normalmente isso não é imediato. Penso que o Inter só terá noção do tamanho das suas pretensões na temporada após o começo do Brasileirão".
Alexandre Praetzel, comentarista do Esporte Interativo/TNT e do Yahoo
"(Podem enfrentar o Flamengo) com times competitivos, mas técnicos também. Grêmio perdeu três dos quatro confrontos e ainda foi inferior no empate da Arena. Inter escapou de uma goleada na Libertadores. É preciso ter bons jogadores. Parece óbvio, mas a dupla esqueceu isso um pouco".
Gian Oddi, comentarista dos canais EPN
"Para competir nas copas, tanto Grêmio quanto Inter precisariam de duas ou três peças que se encaixem muito bem. Isso pode surgir com contratações ou até mesmo jovens que saiam da base. Duas ou três boas contratações e bons trabalhos dos técnicos deve ser suficiente em copas".