Você já deve ter recebido em algum grupo de WhatsApp o vídeo em que um torcedor do Inter faz, na arquibancada do Beira-Rio, uma paródia daquela campanha lançada pelo Jornal Nacional, em que você segura o celular na horizontal e revela o Brasil com o qual sonha.
O sujeito que diz ao mundo que seu Brasil ideal é aquele em que o “Grêmio se f. to-dos-os-di-as”, é Adriano Luiz de Souza, um colorado que, neste domingo (29), foi embretado pelo destino. Adriano Luiz é o pai de Luiz Adriano, o centroavante do Palmeiras. Será a primeira vez que esse colorado de quatro costados verá o filho como adversário desde que voltou da Europa, em julho. E o filho que o desculpe. Porque, na cartilha vermelha do pai não existe torcer contra o time do coração.
— O coração fica assim... Claro que torço pelo sucesso do Luiz, quero que ele faça uma grande partida, que tenha sucesso na careira dele e no jogo. Mas eu não consigo deixar de torcer para o Inter — avisa Adriano Luiz, um sujeito de conversa mansa e sorriso fácil, mas com tamanho de centroavante.
Ele vai adiante e revela os caminhos para que este primeiro domingo de primavera seja perfeito no Beira-Rio:
— Inclusive, o ideal seria um 3 a 2, com dois gols do Luiz. Aí ficaria tudo em casa.
Amigos da família reconhecem em Adriano Luiz o principal conselheiro do filho, a voz que o centroavante ouve e processa. Foi assim há dois anos, quando Luiz Adriano encasquetou que voltaria ao Brasil. Coube ao pai acalmá-lo e convencê-lo de que o ideal era permanecer no Spartak Moscou, o Flamengo da Rússia, um time que tem torcida de Kaliningrado, enclave colado à Polônia, a Magadan, no extremo leste. Lá, Luiz Adriano era o grande ídolo, um dos maiores salários e o goleador.
Adriano Luiz sabia que um dia o filho voltaria ao Brasil. Só que, no regresso desenhado por ele, retornaria direto para o Inter, onde surgiu. Vestiria a camisa colorada e, quem sabe, fizesse o pai sentir outra vez a maior alegria que teve na vida. Adriano Luiz chega a se emocionar ao relembrar da semifinal do Mundial de Clubes, na qual Luiz Adriano entrou no segundo tempo e fez o gol do 2 a 1 no egípcio Al-Ahly.
— Foi a minha maior emoção de todos os tempos como colorado, ver o filho fazer um gol tão importante. Nem imaginava que ele fosse jogar (no Mundial). Daí o cara entra e faz aquele gol... — recorda, voz um tanto embargada.
Popularidade
Falo com ele todos os dias. Mas o papo não entra nessa área. O Luiz sabe que é assunto sério.
ADRIANO LUIZ DE SOUZA
Pai de Luiz Adriano
Só que, neste domingo, Luiz Adriano estará do outro lado. O pai estará no Beira-Rio, como de costume. Possivelmente, os irmãos Murilo, Stephanie e Fabiano o acompanharão. Ver o Inter jogar é sagrado. E assunto de alta relevância. Tanto que, ao ser questionado se nesta semana o filho soltou alguma provocação, Adriano Luiz respondeu como um zagueiro:
— Falo com ele todos os dias. Mas o papo não entra nessa área. O Luiz sabe que é assunto sério.
Portanto, neste domingo, Adriano Luiz calçará o tênis vermelho que costuma usar para ir ao Beira-Rio e repetirá um ritual que vem desde os anos 1970, quando descia o Morro Santa Tereza para exercitar um coloradismo que se iniciou lá na infância, estimulado pelo tio Firmo. São outros tempos, é verdade. O Inter já não é aquela máquina, e Adriano Luiz, impulsionado pela redes sociais, virou uma celebridade entre os torcedores.
Tudo graças ao vídeo, gravado no ano passado, minutos depois daquele Gre-Nal em que Edenilson, de cabeça, deu a vitória de 1 a 0 ao Inter. O filho Murilo colocou no Facebook, e o negócio viralizou. No primeiro dia, foram 70 mil visualizações. Hoje, o vídeo circula de grupo em grupo no WhatsApp. Adriano Luiz virou até stickers (figurinhas) e, logo, estará na cabeça dos colorados. Um coletivo de torcedores, o Discípulos de Rao, lançará uma linha de bonês alusiva ao vídeo. Adriano Luiz sorri. O Brasil que ele quer também tem isso. Só não precisava ter o filho jogando contra o Inter.