As trajetórias ascendentes do São José e do goleiro Fábio Rampi se confundem. Impossível separar o crescimento do clube com a afirmação de um jogador que vicejou à sombra gigante de Grêmio e Inter. Neste sábado (31), o Zequinha, 106 anos de vida, e Fábio, 30, dão passo decisivo em suas histórias. A partir das 19h15min, recebem o Sampaio Corrêa. É o jogo de ida do mata-mata da Série C, a penúltima partida antes de o São José colocar o Brasil dentro do Passo D'Areia.
Para você ter uma ideia da relevância de Fábio para este time, basta mergulhar um pouco no vestiário. Para os jogadores, ele é o "Presidente". É a cara do grupo nas conversas com a direção, é a voz do time nos ouvidos do técnico Rafael Jaques. Não é para menos. Há cinco temporadas, ele é o capitão do time. A partida deste sábado será a de número 191 com a camisa do São José. Uma história que começou ainda na adolescência. Aos 16 anos, trocou o RS Futebol, o extinto clube de Paulo César Carpegiani, em Alvorada, pelo São José. Ficou dois anos na base e saiu para rodar. Primeiro, no Cruzeiro-POA, depois pelo Interior. Voltou ao Passo D'Areia com 25 anos, para dar uma guinada em sua carreira e ajudar o clube a ganhar vida própria fora da sombra da Dupla.
— Quando voltei em 2015, o São José não tinha divisão. Nem vaga na Série D garantida havia. O clube se estruturou para este momento. Ao longo dos anos, manteve uma base muito boa. Tem vários jogadores que estão aqui há muito tempo — conta, por telefone.
A longevidade faz as façanhas do capitão e do time se misturarem. Em 2015, venceram a Copa Walmir Louruz e a Supercopa Gaúcha. No ano seguinte, o São José foi campeão do Interior e Fábio foi eleito o melhor goleiro do Gauchão. No segundo semestre, o clube conquistou a Copa Metropolitana, com três pênaltis defendidos pelo goleiro na final, contra o Novo Hamburgo. Em 2017, veio a vaga na Série D com a conquista da Copa Paulo Sant'Ana. No ano passado, Fábio levantou a taça da Recopa Gaúcha, ajudou o time a ser campeão do Interior de novo e, no mata-mata do acesso à Série C, fez gol de pênalti no Linense-SP.
Ao longo dos anos, manteve uma base muito boa. Tem vários jogadores que estão aqui há muito tempo"
FÁBIO
Goleiro do São José
Goleador de luvas
Aliás, as cobranças de pênaltis são uma particularidade. Fã de Rogério Ceni, Fábio costumava treinar pênaltis. Como o São José havia errado uma sequência de cobranças com diferentes batedores, em 2017, ele virou o cobrador oficial. Jaques assumiu como técnico e o manteve no posto. Já são 17 gols na carreira. Nenhum deles neste ano, por enquanto. Até porque o São José talvez seja o único clube no Brasil neste 2019 sem um pênalti marcado a favor. Também nem foi preciso. Na fase classificatória, o time fez campanha segura. Só perdeu dois dos 18 jogos, nenhum deles em casa.
O retrospecto em casa traz a confiança de que será possível atravessar o Brasil para decidir no Maranhão com um pé na sonhada Série B. A classificação representa um calendário de ano inteiro, a garantia de, ao menos, R$ 6 milhões em cotas na conta e uma vitrina para jogadores que, até agora, lutaram por um lugar ao sol. Caso de Fábio, que sempre jogou em clubes gaúchos e construiu sua história ralando na grama sintética do Passo D'Areia. Aliás, é ali que gira o seu mundo. O São José permite defender o clube do bairro em que mora. Por vezes, diz, vai a pé para o treino. A proximidade permite a troca amistosa de cumprimentos com os vizinhos do estádio e a conversa jogada fora com os torcedores, que são poucos, mas fiéis.
Esse pequeno mundo encravado na Zona Norte de Porto Alegre pode, a partir deste sábado, começar a entrar no mapa da Série B nacional. Em mais um capítulo de duas histórias que se misturam, como as do São José e do goleiro Fábio.