Conheci o projeto do Inter para erguer ao lado do Beira-Rio duas torres comerciais. Não só o belíssimo esboço arquitetônico, elaborado pelo Hype Studio. Fui atrás dos pormenores com quem teve acesso ao plano do clube de fazer brotar ao lado do estádio um prédio de 80m, para abrigar um hotel, e outro, de 130m, o mais alto do Estado, que poderá ser tanto comercial quanto residencial.
Posso garantir que o sonho colorado de concreto é impactante. Nos aspectos visuais e também financeiros. É evidente que o Inter ganhará dinheiro. Mas é evidente também que aportará benefícios à cidade e a uma região de Porto Alegre que nem parece a Porto Alegre do lado de lá, castigada, maltratada e com um aspecto cinza tingido por pichações de todo o tipo.
O projeto precisará da aprovação da Câmara. Antes, passa pelo crivo do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA). Há uma discussão sobre o uso comercial do terreno. É isso que será debatido pelos vereadores quando o projeto chegar à Câmara.
O Inter pede o desmembramento de 2,5 hectares dos 15 do complexo Beira-Rio. Será nesse espaço que pretende erigir as torres contíguas ao local em que hoje está o edifício-garagem. Apenas metade dessa área será usada. O restante será destinado a passeios e a uma esplanada que ligará os prédios à Avenida Padre Cacique.
O certo é que todos ganharão com a obra.
A cidade, porque arrecadará com IPTU e outros impostos — hoje, o Inter é isento de IPTU —e também receberá contrapartidas, como um píer para embarque do catamarã no Parque Gigante, alargamento de trecho da Avenida José de Alencar, reforma do Asilo Padre Cacique, melhorias em postos de saúde e entrega de equipamentos para a EPTC. Sem contar o desenvolvimento econômico que a região terá, com ativação da economia e empregos.
A população, porque contará com um novo espaço para se conectar com o Guaíba. Além da urbanização de espaço em área do Parque Gigante na qual estará o catamarã, as torres terão no térreo uma esplanada e, no topo da maior delas, um mirante envidraçado para contemplar a vista. Inclusive, uma arquibancada está prevista no local, que terá ainda cafeteria, lojas e acesso ao público liberado.
O Inter ganhará porque conseguirá criar uma receita nova e, com ela, dar um salto financeiro. O modelo de negócio ainda está em fase de estudos. Mas a tendência é de que siga os mesmos moldes da reforma do Beira-Rio, com uma construtora bancando a obra e o clube recebendo percentual dos ganhos.
É como se fosse sócio no hotel que será instalado ali, nas lojas e restaurantes que estão no térreo das torres e no topo da mais alta delas. Isso significa que, todos os meses, entrarão recursos na conta do clube. Numa projeção extremamente otimista, espera-se que não seja mais preciso espichar o orçamento para bancar salários e tampouco vender com pressa as revelações para amenizar o déficit. Como aconteceu agora com Iago, cuja negociação com o Augsburg foi comemorada nos bastidores.
A meta do Inter é trazer para o caixa um dinheiro novo e fugir da dependência do quadro social, cujo humor está ligado ao resultado de campo, e, principalmente, da venda de direitos esportivos. Algo que o Atlético-MG ainda tem hoje. Até setembro de 2017, o clube mineiro era dono do Diamond Mall, o principal shopping de Belo Horizonte, vizinho à sede do clube no elegante bairro Lourdes. Vendeu 50,1% à Multiplan por R$ 250 milhões, a serem aplicados na construção do seu estádio. A previsão de orçamento para 2019 era de que os 49,1% do shopping renderiam ao Atlético-MG R$ 10 milhões anuais.
É mirando recursos como esses que o Inter sonha em forma de concreto por um futuro melhor. Um sonho bem possível para quem, em 1956, recebeu uma porção do Guaíba e um prazo de dois anos para transformá-la em terra. Aliás, o maior desafio, hoje, não é nem construir as torres. Mas convencer que elas são, sim, um negócio bom para todos.