Será o primeiro domingo de Tite com o Brasil no Maracanã. E talvez o último. A semana que começou com vitória afirmadora sobre a Argentina fecha com a final da Copa América, contra o Peru, e uma nuvem que turva o futuro da Seleção Brasileira. Tite segue no cargo? Vai para a China? A conquista da taça pode provocar mudança no cenário? Ou será apenas o gran finale para uma despedida de luxo? A única certeza até agora é que sua passagem pela CBF elevou a régua para quem vier (e se vier) depois dele.
Tite mudou a forma de conduzir a Seleção Brasileira. Adotou o planejamento como ferramenta básica, incorporou um olhar científico à rotina e criou uma teia de conexões capaz de ligar a luxuosa sede na Barra da Tijuca com qualquer ponto do mundo. Esteja o jogador no interior da China, da Ucrânia ou na Premier League, há um monitoramento de todos os seus passos como se estivesse sob seus olhos, no campo.
A comissão técnica dá expediente na CBF todos os dias. Comanda a Seleção como se estivesse em um time. Recebe relatórios de auxiliares, preparadores físicos e fisiologistas dos clubes em que estão os jogadores inseridos no radar de Tite. Sabe no detalhe quanto o atleta treinou na semana e em que intensidade. Se ele ficou entregue ao departamento médico, conhece a razão disso e por quanto tempo esteve sob cuidado do fisioterapeuta.
Dirigentes com trânsito nos corredores da CBF garantem que nunca a Seleção Brasileira ganhou carta tão branca e contou com um orçamento tão flexível. Não há restrições a viagens para assistir a jogos, muito menos para conferir se as condições de treino, segurança e instalações estão adequadas para receber os jogadores nos amistosos.
Nada falta. A equipe de trabalho que cerca Tite é a maior que a Seleção já teve, revela um diretor. Inclui-se aí áreas de apoio. Todos os detalhes são observados para que atletas e comissão técnica tenham como única preocupação a bola e o campo.
Toda essa estrutura foi montada por Tite e pelo seu homem de confiança, Edu Gaspar. Quando o telefone do técnico tocou em São Paulo, e ele ouviu do outro lado da linha a convocação para tirar o Brasil da sombra do sexto lugar nas Eliminatórias, uma das exigências foi levar Edu junto, como diretor de seleções.
O ponto que enevoa o futuro do técnico no comando da Seleção agora é exatamente Edu. Sua saída para o Arsenal, depois da Copa América, deixa Tite sem seu principal e mais seguro porto nos imprevisíveis corredores da CBF.
Um exemplo do quanto Edu servia de anteparo para o técnico veio em Kazan, no dia seguinte à eliminação na Copa do Mundo. A dor pela derrota para a Bélgica corroía a Seleção. Nenhum dirigente apareceu para atender aos repórteres de plantão à frente do Mirage Hotel.
Coube a Edu dar as explicações em entrevista improvisada numa sala do hotel. É esse tipo de blindagem que Tite teme perder com sua saída. Junte-se a ela o emagrecimento de sua comissão técnica, que perdeu Sylvinho e o analista de desempenho Fernando Lázaro para o Lyon.
Tite, agora, é vítima da própria régua que subiu no comando da CBF. Talvez falte-lhe a certeza se contará com a mesma carta branca para remontar sua comissão e, principalmente, indicar o substituto de Edu. A CBF, numa nota curta e fria, garante apostar no projeto com o técnico até a Copa de 2022. Por trás das duas linhas da nota, há uma série de costuras a serem feitas.
Nos bastidores da entidade, desde fevereiro circula a informação de que Tite sairia depois da Copa América, com ou sem taça. A informação ganhou força quando, há cerca de 45 dias, Edu avisou a entidade sobre a mudança para a Inglaterra. Há alguns dias, o presidente Rogério Caboclo, jantou com o técnico.
Disse a pessoas próximas que em nenhum momento foi mencionada uma saída. A final deste domingo pode ser o desfecho de dois anos de Tite. Os números impressionam. Em 41 jogos, foram 32 vitórias e só duas derrotas, com 90 gols a favor e apenas 10 contra. O saldo é de impactantes 80 gols e um legado que mudou a forma de comandar a Seleção.