Em 2017, entrevistei o ex-meia Beto, a contratação mais cara da história do futebol gaúcho até aquele final de século. O Beto, todos sabem, não era um modelo de comportamento. Quando a conversa enveredou para suas estripulias fora de campo, o Beto se lembrou do Seu Verardi:
— Me ajudou muito, me ensinou. Me chamava para cobrar e me orientava. Aprendi com ele e hoje uso com meus filhos.
Dias depois, liguei para o seu Verardi, relatei a conversa e lhe transmiti o abraço que o Beto havia enviado. Pude perceber a satisfação dele ao ouvir meu relato:
— O Beto, é? Onde ele está? Que bom que ele levou algo daqui.
Antônio Carlos Verardi não era o superintendente de futebol do Grêmio. Ele era o Grêmio. Cuidava dos jogadores, técnicos e funcionários como se fossem seus filhos. Foram 54 anos dedicados inteiramente ao clube do coração. Todos os dias. Mesmo quando não havia expediente.
Nesta quarta-feira em que a torcida acordou aliviada pela vaga encaminhada às oitavas de final, o mundo do Grêmio acordou sem um dos seus pilares. Antônio Carlos Verardi nos deixou aos 84 anos. Ele era a ponte que ligava o campo ao clube. Era a conexão entre os gabinetes e o gol.
Pela sua sua extrema competência, fazia tudo funcionar com eficiência germânica e precisão britânica. Sempre sem alarde, sempre com discrição. Sempre com tom respeitoso e uma formalidade que impunha respeito. Ao telefone, sempre nos atendia da mesma forma, abrindo a conversa com um "sim, senhor".
Foi essa figura que ajudou o Grêmio a se tornar o gigante de hoje. E que ficou marcada na vida de todos que passaram pelo Olímpico e pela Arena. Não há ex-jogador do Grêmio que deixe de nos perguntar numa entrevista:
— E o seu Verardi, está no clube ainda?
Aliás, há alguns dias entrevistei o Escalona, aquele lateral chileno da Batalha dos Aflitos. Ele fez a pergunta acima e me pediu pra transmitir um abraço ao seu Verardi. Infelizmente, esse não tive tempo de entregar.
Descanse em paz, Seu Verardi.