O rival do Inter nesta quarta-feira (13), no Beira-Rio, é um dos históricos e mais populares clubes do Peru. O Alianza acaba de completar 118 anos de uma vida pontuada por 23 títulos nacionais e por uma tragédia aérea que dizimou uma geração de craques, em 1987. Só mesmo a fé fez o clube superar seu momento mais duro. Uma fé que conecta o Alianza ao povo através da devoção ao Señor de los Milagros. Confira agora um pouco dessa história.
Clube das camadas populares do país, o Alianza divide a paixão dos peruanos com o Universitário, outro de grande apelo entre as classes mais baixas, e o Sporting Cristal, mais conectado à elite. A ligação do Alianza com o Señor de los Milagros, porém, faz dele o clube do povo. O Señor de los Milagros é chamado pelos peruanos como o "Cristo Negro" ou o "Cristo Roxo". A história remonta a 1655, quando um grande terremoto sacudiu Lima e esfarelou construções. Segundo a lenda, uma parede, em que um escravo angolano havia pintado, de forma rústica, a imagem de Jesus na cruz, ficou intacta. Teria sido esse o primeiro milagre. Desde lá, outubro virou o mês de adoração ao Señor de los Milagros. Multidões participam das procissões por todo o país.
Onde entra o Alianza nisso? A relação começou quando um massagista levou uma imagem do santo para o vestiário. Virou rotina no clube os jogadores rezarem antes dos jogos diante da imagem e levá-la sempre com a delegação. Criou-se uma vinculação tão forte que o povo passou a ver no clube o devoto mais fervoroso. Para reforçar essa situação, o Alianza sempre usa, em outubro, um uniforme roxo.
Foi essa fé que ajudou o clube a atravessar os anos mais duros de sua história. Em 8 de dezembro de 1987, um Fokker da Marinha que trazia a delegação com 16 jogadores e a comissão técnica de um jogo contra o Deportivo Pucallpa caiu no Pacífico quando se aproximava de Lima. O clube amargava nove anos sem títulos ficou outros 10 sem comemorar.
É consenso no Peru que aquela geração era a mais brilhante surgida no clube nos últimos anos. Tratava-se de um time jovem e com nomes como Carlos Bustamante, 22 anos, o autor do último gol daquele time, Jose Casanova, 23 anos, o Pelé, e Luis Aburto, o Potrillo, 18 anos. Muitos apontam que a morte daqueles jovens jogadores criou um hiato na seleção, que só voltou a uma Copa em 2018, na Rússia. Também morreu naquele acidente o técnico Marcos Calderón, que havia comandado a equipe na conquista da Copa América de 1975.
O acidente levou o goleiro José Ganosa, o Caíco, histórico no país, campeão em 1975 e reserva na Copa de 1982. Caíco era o tio de Paolo Guerrero, uma espécie de segundo pai do centroavante do Inter. Esse acidente, aliás, criou um trauma que Guerrero precisou tratar. A tensão em viajar de avião era tamanha que, em 2011, desembarcou de uma viagem de Hamburgo até a Suíça com uma lesão muscular.
Guerrero é torcedor do Alianza. Quando esteve em Lima durante a suspensão, era figura no estádio. O Depredador, como o chamam os peruanos, já disse que antes da aposentadoria jogará pelo clube ao lado do amigo Farfán.