Se tudo correr como está programado, River Plate e Boca Juniors decidem neste domingo (9) quem será o melhor time da América do Sul. Será uma final inédita. Porque pela primeira vez reúne os dois gigantes argentinos. Porque pela primeira vez será disputada em Madri, no glamoroso Santiago Bernabéu. Seria uma piada não fosse a mais triste realidade. Mas o fato é que a maior final de todos os tempos da Libertadores da América será disputada diante dos olhos de quem, há seis séculos, atravessou o Atlântico para tomar para si quase o continente inteiro. Ninguém poderia se ofender, portanto, se esta Libertadores tão cheia de confusões e ardis fosse batizada como Colonizadores da América.
River e Boca jogarão na Espanha porque nós, sul-americanos, fomos incapazes de organizar nosso grande jogo. A Conmebol e o governo argentino permitiram que o pior de nós aflorasse e impedisse de vender ao mundo o futebol raiz, aquele do estádio sem cara de shopping e com jogadores que jogam futebol como gente e não mecanizado como um robô.
O problema é que esse nosso futebol é tão raiz que viaja até as nossas profundezas. E de lá traz à tona nossos instintos mais selvagens. Atirar um tijolo no ônibus do adversário beira o primitivismo. Por sermos ainda tão raiz, ao ponto de nossos instintos nos vencerem, é que a Conmebol terceirizou para os espanhóis o trabalho que deveria ser seu, de entregar ao continente e ao mundo um espetáculo do tamanho da Libertadores.
Onde quer que estejam, Simón Bolívar, os generais San Martín e Artigas devem estar reunidos, arquitetando um plano para tomar a Conmebol. Eles não mereciam isso, depois de tudo o que fizeram para libertar a América.
Para você ter ideia do que significava o domínio espanhol, entre os séculos 16 e 17, depois de descer da América Central em busca das riquezas da Nova América, tomaram o Peru dos Incas e chegaram ao Cerro de Potosi – naquela mesma cidade boliviana conhecida como a mais alta da Libertadores. Eles já haviam escutado falar das riquezas existentes nessa porção da América. Só não imaginavam que seria tanto.
Os espanhóis, ao tomar conta de tudo, criaram uma eficiente logística para levar toneladas de ouro, prata, diamante e outras pedras preciosas.
Tudo que era extraído, pelos índios, é claro, era carregado no lombo de lhamas e mulas e embarcado. Geralmente, as naus e os galeões, construídos com madeiras nobres extraídas das florestas daqui, partiam do Panamá e chegavam à Andaluzia para tornar mais abastada a vida no império.
A rota ficou conhecida como La Carrera de las Índias. A prata americana chegada à Europa transformou a economia mundial e foi agente de um dos primeiros episódios de "mundialização" da economia. Pois, agora, cinco séculos depois, River e Boca pegam a mesma rota. Jovens craques como Pavón, Benedetto, Pitty Martinez e Palácios desfilarão pelo Santiago Bernabéu a partir das 17h30min. Mais uma vez, nosso ouro brilhará longe daqui. Um dia, espero, aprenderemos a viver sem ser colônia.
LIBERTADORES – FINAL – 9/12/2018
RIVER PLATE
Armani; Montiel, Maidana, Pinola e Casco; Casco (Nacho F.), Palacios, Ponzio, Enzo Pérez e Pity Martínez; Pratto
Técnico: Matías Biscay
BOCA JUNIORS
Andrada; Buffarini (Jara), Izquierdoz, Magallán e Olaza (Mas); Pavón, Nández, Barrios e Pérez; Benedetto e Ábila
Técnico: Guillermo Barros Schelotto
Horário: 17h30min
Local: Estádio Santiago Bernabéu, em Madri, na Espanha
O jogo no ar: Os canais SporTV e Fox Sports transmitem. A Rádio Gaúcha abre a jornada às 17h.