O rival do Grêmio neste confronto por vaga na semifinal da Copa do Brasil, mais do que tradição e camisa, chega à Arena robusto por contratações milionárias, jogadores badalados e o resgate de seu DNA de apostar na base.
Atual líder do Brasileirão, garantido nas oitavas de final da Libertadores, onde enfrentará o Cruzeiro, e com um técnico jovem adotado pelo grupo de atletas, o clube carioca busca em Porto Alegre a manutenção de uma sequência de luxo depois de começar o ano eliminado nas semifinais do Estadual.
A seguir, conheça o Flamengo em sete toques.
O professor guri
Maurício Barbieri tem 36 anos, cara de guri e responsabilidade gigante. Coube a ele assumir o clube na virada de março para abril, em um momento de crise aguda. O Flamengo havia caído para o Fluminense numa semana e sido eliminado da semifinal do Carioca para o Botafogo na outra. Carpegiani e Rodrigo Caetano tinham sido demitidos, e o clube chamou o auxiliar trazido em janeiro, do interior paulista, para tocar o barco.
Até assumir o comando no Ninho do Urubu, a maior vitrina de Barbieri tinha sido o Guarani-SP, na Série A-2 do Paulistão. Foram sete jogos e um mês até ser dispensado. Não justificou a aposta, baseada no currículo com acessos à primeira divisão carioca, pelo Audax-RJ, em 2013, e paulista, pelo RB Brasil, no ano seguinte, além das quartas de final do Paulistão 2015 com o clube.
Em 2017, ele ficou três meses desempregado até receber o chamado para comandar o Desportivo Brasil na Copa FPF. Por isso, não pensou duas vezes quando o Flamengo o ofereceu o cargo de auxiliar em janeiro.
Estudioso, Barbieri fez estágio aos 22 anos na base do Porto campeão do mundo e da Europa em 2004. Ali, acompanhou de perto o trabalho de José Mourinho, em cujas ideias se inspira para montar seus times. Recém havia se formado em educação física quando viajou à Europa. Na volta, iniciou trajetória em clubes como preparador e, no Audax-RJ, virou o técnico que colocou o Flamengo nos eixos.
Apoio do grupo
No vestiário, Maurício Barbieri é mais jovem que o principal líder do grupo, o zagueiro Juan, de 39 anos. O que não o impediu de colocar na reserva de Léo Duarte, 22.
Há uma admiração do grupo ao técnico. Os métodos de trabalho, a porta aberta da sala para ouvir sugestões táticas e os treinos que quebram a rotina caíram nas graças dos jogadores.Nos bastidores do Ninho do Urubu, circula a informação de que partiu deles o pedido de efetivação do interino ao presidente Eduardo Bandeira de Mello.
Historicamente com um vestiário em chamas ou com disputa de egos, hoje o Flamengo convive com um grupo mais harmonizado e fechado, mas que sabe muito bem o que deseja. Com Barbieri, o time passou a jogar um futebol competitivo e decolou. Está nos mata-matas da Copa do Brasil e da Libertadores e é líder ao Brasileirão.
Banco de luxo
Os cálculos apontam gasto de R$ 140 milhões do Flamengo em contratações nos últimos três anos. Chegaram 10 jogadores: Mancuello (R$ 11,1 milhões), Cuéllar (R$ 8 milhões), Alex Muralha (R$ 4 milhões), Everton Ribeiro (R$ 31,7 milhões), Berrío (R$ 13,8 milhões), Rhodolfo (R$ 6,7 milhões), Renê (R$ 3,9 milhões), Diego Alves (R$ 1,7 milhão), Henrique Dourado (R$ 15,7 milhões) e Vitinho (R$ 43 milhões).
Outros, como o meia Diego, volante Rômulo, colombiano Uribe e o peruano Trauco vieram pelo salário — que no caso dos três primeiros está longe de ser uma pechincha, é bom que se diga. O fato é que esses medalhões criaram a estrutura para que o clube resgatasse seu DNA de lançar garotos e permitir que desabrochassem, caso de Lucas Paquetá.
Ninho do Urubu
O Flamengo retoma sua tradição de revelar bons jogadores. Maurício Barbieri trouxe 28 jogadores para essa estada de cinco dias em Porto Alegre. Desses, 11 são oriundos da base. Esse número inclui Juan, 39 anos, e que tem idade para ser pai da maioria desses guris.
O centroavante Lincoln, por exemplo, completará 18 anos apenas em dezembro. O volante Jean Lucas, uma das promessas do clube para o futuro, fez 20 no final de junho. O meia Matheus Sávio, 21, voltou depois de uma temporada emprestado ao Estoril-POR. Sua saída foi estratégica. Depois da atuação comprometedora contra o San Lorenzo, que provocou a queda na Libertadores 2017, ele ficou na mira da torcida.
O zagueiro Thuler, 19 anos, é apontado como futuro zagueiro titular do time. A posição, hoje, é de outra cria da base, Léo Duarte, 22 anos. Completam a lista dos feitos em casa os goleiros César, Thiago e Gabriel Batista, o volante Ronaldo e o afirmado Lucas Paquetá.
Calendário
Nos próximos 15 dias, a vida do Flamengo se resumirá a Grêmio, Cruzeiro, Cruzeiro e Grêmio. O calendário colocou os cariocas numa sequência de jogos pelo Brasileirão e pela Copa do Brasil e Libertadores contra o mesmo adversários.
Tudo começa nesta quarta-feira, na Arena. No sábado, só mudam o dia, a hora e a competição. Na quarta-feira, dia 8, o Flamengo recebe o Cruzeiro, pela Libertadores, no Maracanã. Três dias depois, volta a encontrar os mineiros no mesmo lugar, mas pelo Brasileirão.
Na quarta-feira seguinte, será a vez de definir com o Grêmio a vaga na semifinal da Copa do Brasil. Em resumo, será cinco jogos em 15 dias, três contra o Grêmio e dois contra o Cruzeiro.
Quatro centroavantes
A dúvida de Maurício Barbieri para a noite desta quarta-feira é se começa com Vitinho ou o deixa para o segundo tempo. Na verdade, centroavante é o menor dos problemas do Flamengo.
Nesta janela, o clube contratou dois em 30 dias. No final de junho, o colombiano Uribe chegou pelo salário e pelas luvas do Toluca-MEX. Para quem não se lembra, Uribe é aquele mesmo que estava no Toluca que enfrentou o Grêmio na Libertadores 2016. Aos 30 anos, depois de rodar pelo Chievo e México, tomou o caminho do Brasil.
No final de julho, Vitinho desembarcou no Rio ao custo de R$ 43 milhões. No banco, Barbieri tem Henrique Dourado, o goleador do último Brasileirão. Até 10 de agosto, o Flamengo ainda conta com Paolo Guerrero, 34 anos. Ele ficou no Rio, por dores nas costas. Esse seria mais um sinal de que seu ciclo no clube está no fim. Não à toa vieram dois centroavantes em 30 dias.
Equilíbrio
O bom momento do Flamengo está ligado à figura do volante colombiano Gustavo Cuéllar, 25 anos, diante da área. Com Paulo César Carpegiani, ele seguia a sina das duas temporadas anteriores e alternava entre o banco e o time titular. Até que Barbieri o efetivou, colocando Willian Arão no banco.
Arão, aliás, esteve perto de sair nesta janela, para o Olympiacos. O colombiano era figura na seleção e, na reta final, acabou de fora da lista de Jose Pekerman para a Copa. Diante da área, ele ostenta números que o colocam em evidência. É quem mais desarma pelo Flamengo, com 4,1 tomadas de bola por jogo.
Também é o segundo melhor passador, com média de 47,4 e só atrás do lateral-esquerdo Renê. Nesta temporada, ele atuou em 23 dos 29 jogos do Flamengo. Há quem o coloquem no mesmo patamar de importância de Paquetá, Diego e Everton Ribeiro. O que, convenhamos, não é pouco.