Martín Cabrera conhece bem o Estudiantes e a alma de um dos clubes mais históricos da Argentina. Editor de Esportes do jornal El Dia, de La Plata e repórter da rádio La Redonda, Cabrera aposta em um Estudiantes fechado, talvez até com cinco zagueiros, e diz que o grande trunfo desse time renovado é atuar leve, sem a obrigação de se classificar. Por telefone, o jornalista conversou com a coluna.
Surpreende o bom começo de temporada do Estudiantes?
Sim, penso que surpreende os torcedores, pela decisão do clube em apostar nos jovens, reduzir os gastos e aportar todo o dinheiro no estádio. Surpreenderam os triunfos sobre Grêmio e Boca. No meio deles, jogou contra o Godoy Cruz, atual vice-campeão, e perdeu de forma tonta, no último minuto. Na sexta-feira, usou a maioria de reservas e saiu mal (contra o Belgrano). Surpreendeu o nível de Iván Gómez (volante), Apaolaza (centrovante) e Pelegrini (meia), todos com idades entre 18 e 21 anos.
Qual o nível de confiança da torcida para o jogo na Arena?
O melhor para o time é que não tem nenhum tipo de obrigação. É até mais possível que perca em Porto Alegre e seja eliminado. Se perder, não passará nada. O Estudiantes não tem grupo numeroso nem os investimentos para competir com o Grêmio.
Qual a relação da torcida com este time renovado?
Essa equipe recuperou a mística, é como se o Estudiantes tivesse voltado às suas origens. O time voltou a jogar como gosta a torcida, pressionando, com garra. Houve outros técnicos que implementaram um modelo em que se privilegiava mais a técnica e não um estilo com mais luta.
Mas o time campeão de 2009 adotava um modelo mais técnico de jogar, não?
O time campeão da América em 2009 jogava de forma mais elaborada, mas contava com jogadores que atuavam assim. Hoje não se tem jogadores com tanta mobilidade, de tanto requinte técnico. Por isso, o Estudiantes voltou a aproveitar a chance que tem, voltou a trabalhar a bola parada e a fazer gols a partir dela. Essa era uma bandeira do clube que estava esquecida. Por muitos anos, o time não fazia gols de cabeça. Um grande problema na Arena será a ausência de Zuqui. É ele quem cobra faltas e escanteios, é quem melhor está batendo na bola.
Como imagina que se comportará o Estudiantes amanhã?
Imagino que vai tentar aguentar o resultado o maior tempo que puder. Não imagino o Estudiantes pressionando muito longe de sua área. Talvez jogue com linha de cinco na defesa. O técnico Leandro Benítez tomará cuidados defensivos. Não creio que Estudiantes vá atacar ou marcar alto. O time já saiu recompensado no jogo de ida, em Quilmes, quando venceu por 2 a 1. A hierarquia dos jogadores do Grêmio é maior, me parece clara a diferença entre os dois times. O Estudiantes é uma equipe com juvenis e sem investimento.
A torcida acredita numa classificação?
Não há muitas expectativas. Não há pressão ou obrigação de se classificar. O favorito é o Grêmio, a torcida sabe disso e sabe da diferença entre um time e outro. O 2 a 1 em Quilmes despertou um pouco as esperanças no torcedor do Estudiantes. Mas espero que que viagem poucos para Porto Alegre. Além disso, há a situação econômica na Argentina, difícil. Imagino entre 500 e 800 torcedores na Arena.