Havia passado 24 horas da eletrizante decisão nos pênaltis e da conquista da vaga na final do Gauchão, contra o Grêmio, quando o lateral-esquerdo Artur atendeu à coluna por telefone. Aos 23 anos, ele comemora seu renascimento depois de duas temporadas turbulentas, com rebaixamentos em Inter e Ponte Preta.
O choro ao final da partida no Bento Freitas foi um desabafo, uma tonelada jogada para fora do peito. Com vínculo com o Inter até o final de 2019, Artur exalta o bom começo de 2018 e a adaptação rápida ao Brasil e a Pelotas, onde se sente em casa e adaptado ao ritmo que uma cidade do Interior oferece, como chegar ao estádio com cinco minutos de caminhada ou perceber nos vizinhos do prédio os parentes mais próximos.
A seguir, confira trechos da conversa com Artur.
Depois de duas temporadas complicadas, você retomou a carreira no Brasil-Pel.
Está sendo muito especial aqui no Brasil. O Clemer me conhece, confia. Eu estava precisando dessa sequência de jogos. Atuei em 10 jogos na Ponte Preta em 2017 inteiro. Aqui, já fiz os mesmos 10. Além de uma sequência boa, estou jogando em alto nível. Está sendo um recomeço, a vinda para o Brasil rende bem mais do que estava pensando.
Como é chegar à final com um clube do Interior e com uma torcida tão apaixonada?
Em 2016, cheguei à final com o Inter. Mas éramos favoritos. A Dupla sempre chega, é lago comum para ela. Chegar com o Brasil é muito diferente. Fui campeão com o Inter, agora tenho essa possibilidade com o Xavante. é algo que será completamente diferente mesmo. Não somos os francos favoritos, entramos como azarões. Vamos comer pelas beiradas, como viemos fazendo, como fizemos para ser a melhor campanha da fase classificatória.
Você chorou muito ao final da decisão na semifinal. Por que as lágrimas?
Foi um desabafo por tudo que passei em 2017, na Ponte, Comecei bem, mas aconteceram coisas que não são comum no futebol. Fomos vice do Paulistão, uma competição muito visada. Viajei para jogar pela Sul-Americana e, quando voltei, o diretor me disse que não precisava mais de mim, havia contratado outro lateral-esquerdo. Fiquei quatro meses em separado. Só voltei a jogar com Eduardo Baptista. Mas imagina: passei quatro meses em separado, treinei uma semana e fui para o jogo contra o Cruzeiro. Com quatro minutos, me lesionei.
Bom, havia muito sentimento represado mesmo. As lágrimas são justificadas.
Sim, mas foi mais pelo último ano. Nem falo de 2016, sofri muito com a queda do Inter. Em casa, minha mulher sofreu. Falo por 2017. Acabei ficando separado do grupo. Sabe o que é estar bem e não entender porque fizeram aquilo (afastamento)?. Fiz 10 jogos em um ano e sabia que poderia dar mais e não deixaram. Aí chega 2018 e venho para o Brasil, abraço o projeto, e chegamos à final, algo histórico, que não acontecia há 63 anos. O choro foi de desabafo mesmo, pelo ano difícil, de baixos e altos, como o nascimento do meu filho (Artur, de cinco meses). Espero que tenhamos êxito e que eu chore mais ao final, mas de emoção (risos). Sou grato ao clube, por abrir as portas, e à cidade, que é muito acolhedora.
Como chega o Brasil para a decisão?
Pegamos dois rivais difíceis, o São Luiz, um time arrumado, e o São José, que faz valer muito o fator casa. O Grêmio é uma grande equipe, tem grandes técnicos e grupo. Trata-se do atual campeão América e da Recopa. Estamos trabalhando, não caímos de paraquedas na final. O resultado virá de acordo com o que fizemos em campo, se formos focados como estamos, o trabalho será bem feito. Vamos correr, correr e correr. Quando não der mais, correr mais um pouco. É uma final.
Como o Clemer blindou o grupo do ambiente na cidade, de uma torcida apaixonada?
Ele nos falou nesta quinta-feira que a gente sabe porque chegou e temos de continuar trabalhando, fazer o que estamos acostumados e que é hora de aparecer o algo a mais. Sabemos que a torcida está empolgada. O momento é de manter o foco. O Brasil nunca deixou a peteca cair. Vamos à Arena concentrados, com força máxima e cientes de que se trata de jogo de 180 minutos.
Tantos ex-jogadores do Inter no grupo traz também uma pitada da rivalidade Gre-Nal, não?
Estávamos até conversando à tarde sobre isso, eu, o Ednei, que passou pelo Inter em 2013, e o Lourency, que também jogou pelo clube, em 2015. Há ainda o Alisson Farias, Mossoró, Robério, Valdemir... A vantagem disso é que tem uns caras que, pelo menos eu, já conheço de enfrentar desde a base, como o Everton. Mas estamos aqui é pelo Brasil, abraçamos a causa desse clube, Vamos vestir a camisa como se fosse a nossa pele. A rivalidade Gre-Nal, a gente sabe, é grande. Para nós, toda a torcida é válida. toda energia positiva que nos for enviada será bem recebida, pode ter certeza.