No Bate-Bola desta sexta-feira, a coluna dá um mergulho na alma do Lanús, o clube que vive nos limites da cidade homônima e desafia o Grêmio em busca da conquista da América. Quem tenta nos decifrar este finalista da Libertadores é o argentino Leandro Piñón Gazcón, jornalista do programa Corazón Granate e, claro, torcedor do Lanús.
O Corazón Granate vai ao ar de segunda à sexta-feira, das 11h às 12h, na Rádio Independência AM 1160. Trata apenas do clube que virou modelo de administração na Argentina e se espreme entre os grandes do país, o reconhecido quinteto Boca, River, Independiente, Racing e San Lorenzo.
Nesta semana, Leandro, parou para atender a coluna e falar do que mais ama, o Lanús. Confira a conversa:
Como é sua relação com o Lanús?
Minha família sempre viveu em Lanús. Eu não, nunca morei ali. Vivo a 40 minutos da cidade, em outro ponto da Grande Buenos Aires. Mas aprendi com meus avós e meus pais a gostar e a torcer pelo clube. Vou aos jogos com eles ou com grupo de amigos. Temos aquele hábito de ficar sempre no mesmo lugar, de encontrar as pessoas que costumam ir naquele espaço. Meu tataravô foi um dos fundadores do clube. Ja é a quinta geração de torcedores na família.
O seu caso, de morador de fora da cidade, é uma exceção entre os torcedores?
A maioria dos torcedores são da cidade de Lanús. Vivem ali, são frequentadores habituais do clube, praticam esportes ali, na sede social, são sócios e, por isso, se dizem clubes de bairro. Isso é cultural na Argentina, as pessoas crescem ali dentro, se conhecem naquele ambiente, por vezes casam com pessoas dali. Isso só acrescenta na paixão pelo clube.
Os clubes de Porto Alegre sempre relatam problemas quando vão à Argentina, como dificuldades para a delegação entrar no estádio ou hostilidade dos torcedores. Há esse histórico no Lanús?
Não, somos diferentes dos grandes, como Boca, River. Quando times de fora vem aqui, as pessoas os tratam como qualquer outro. Há um clima de amizade no entorno do estádio. Não é um ambiente complicado. Em geral, não é. Há uma muita gente em grandes jogos, mas é mais tranquila, embora o fanatismo. Agora, não há tanta gente assim para complicar a chegada dos rivais (risos).
Vemos na TV espaços vazios em La Fortaleza. O Lanús, você me disse, tem cerca de 40 mil sócios e um estádio para 47 mil pessoas. Alguma vez houve lotação total?
Na maioria das vezes, o estádio está com espaços vazio. Contra a Ponte Preta, na final da Copa Sul-Americana, ficou totalmente lotado, o jogo prometia título. Geralmente, o La Fortaleza não enche. Acontece que em jogos de torneios internacionais, torcedores de outros clubes que gostam de futebol vão assistir sem problema algum. Há espaço para os não sócios.
Este é momento mais importante da história do clube. Foi histórico chegar à semifinal e, agora, vem a final. Compartilho o estádio com gente de todas as gerações
LEANDRO PIÑÓN GAZCÓN
Jornalista e torcedor do Lanús
Como você define este momento para a torcida do Lanús?
Este é momento mais importante da história do clube. Foi histórico chegar à semifinal e, agora, vem a final. Compartilho o estádio com gente de todas as gerações. Torcedores mais velhos, que estavam nas épocas ruins estão muito emocionados. Não creem que isso esteja acontecendo. Tivemos um passado ruim, com dívidas, nas últimas posições. Mas todos os grupos políticos se uniram e tivemos um projeto de formação de jogadores. Assim, saímos dos nosso piores anos.
O Vélez, por ser campeão da América e do Mundo, estaria como um clube de bairro do tamanho dos cinco grandes. O Lanús aspira isso? Como é classificado pelos argentinos?
Aqui, consideram grandes os cinco maiores. O Lanús está muito atrás. Mas é histórico, um dos fundadores do Campeonato Argentino em meados do século passado. É um clube de 102 anos.
Essa integração entre a comunidade local e o clube se transfere para o time?
Muito mais, a torcida vê o jogador como mais um da gente. O atleta que vem para Lanús se sente parte da cidade. A maioria dos jogadores anda pela ruas da cidade com tranquilidade, almoçam e jantam em restaurantes perto do estádio, vivem na cidade. Com a torcida, se vê um clima de família. Nos grandes de Argentina, isso não se vê mais, os jogadores são mais estrelas, como os de Europa. É provável que você encontre os jogadores do Lanús nas ruas da cidade, converse com eles sem qualquer problema. São muito humildes, tanto os que vieram de fora quanto os que cresceram aqui.
O centroavante Sand é o grande ídolo da torcida?
Sim, há grande identificação dele com a torcida. Em sua carreira, viveu os melhores momentos no Lanús. Foi três vezes goleador do Argentino e campeão em três ou quatro oportunidades jogando no clube. Ele mesmo disse que Lanús é seu lugar no mundo. Toda a sua família torce pelo time. E olha que ele não nasceu na cidade, veio de outra província (Corrientes).
Mais do que Lautaro Acosta?
Acosta nasceu para o futebol no Lanús, cresceu ali, é torcedor do clube. Creio que seja o maior jogador da história do Lanús. Mas esse time tem também Andrada, formado na base, e Velázquez, que é o atleta com mais jogos com camisa do clube (mais de 400). Ele começou no Ferro Carril, passou pelo Talleres, de Córdoba, e está aqui desde 2004.
O que faz esse Lanús forte?
Tanto pelos salários quanto pela capacidade de contratar, Boca e River conformam o mercado. Nós, dos outros clubes, nos contentamos com o restante, com o que sobra deles. Mas o Lanús montou um grupo de qualidade, com poucos ingressos de receitas. Temos uma das melhores situações financeiras da atualidade. O clube está em dia com todos. Cumpre e respeita seus compromissos.
Há um grande percentual que está tranquilo e confia em que podemos ganhar a Copa. Outros estão com um pouco de medo do Grêmio
LEANDRO PIÑÓN GAZCÓN
Jornalista e torcedor do Lanús
Para encerrar, qual o grau de confiança da torcida do Lanús?
Há um grande percentual que está tranquilo e confia em que podemos ganhar a Copa. Outros estão com um pouco de medo do Grêmio. Sabemos que é um grande clube do Brasil e por isso há grande respeito. Mas todos confiam nesta equipe, por tudo o que fez até aqui. É a primeira vez que podemos ganhar um título desse porte. Ninguém esperava chegar até este momento. Por aqui estamos.