As quitandeiras tiveram importante papel no comércio de Porto Alegre no século 19. Mulheres negras africanas vendiam alimentos e outros produtos nas ruas, em locais como o entorno do cais, do Mercado Público e da cadeia. A Praça da Alfândega já foi chamada de Praça da Quitanda devido à concentração de quitandeiras.
Em passagem pela cidade, em 1820, o francês Auguste de Saint-Hilaire descreveu o cenário de comércio junto ao cais. Negros vendiam laranjas, amendoim, carne seca, lenha e outros produtos. O viajante relatou que "muitos comerciam acocorados junto à mercadoria", enquanto outros negociavam em barracas, "dispostas desordenadamente".
O historiador e professor Paulo Roberto Staudt Moreira conta que grande parte das quitandeiras eram africanas minas-nagôs, oriundas da região do Golfo do Benin, atualmente República do Benin e Nigéria. Elas eram negras escravizadas ou forras, que compraram a liberdade.
— Elas vieram de cidades, de locais de feiras, lugares onde tinham protagonismo. Precisavam comprar, vender e negociar preços — explica Moreira.
As quitandeiras eram empreendedoras. Negociavam frutas, verduras, chás, roupas, tecidos e produtos cozidos, como o mocotó. As escravizadas pagavam um valor semanal aos seus senhores. Quando conseguiam acumular uma poupança, compravam a carta de alforria e até a liberdade de familiares. Devido ao sucesso dos negócios, algumas acumularam patrimônio, descrito nos testamentos.
No século 19, ocorreram muitas brigas religiosas naquela região da África. Os prisioneiros de guerra foram vendidos como escravos.
As mulheres minas-nagôs eram facilmente identificadas pela sua estética, em especial os penteados. Após o fim da escravidão no Brasil, as quitandeiras não conseguiram prosperar no comércio, por exemplo, abrindo lojas em Porto Alegre.
— Acabou a escravidão, mas não acabou o racismo, que prejudicou estas mulheres. O Brasil também reprimiu, a partir de 1850, os traços de africanidade. Outro fator foi a presença maior de estrangeiros, que chegaram para concorrer no comércio — avalia Moreira.
As quitandeiras fazem parte da história dos primórdios do comércio na cidade.