Depois da Revolta dos Malês em Salvador, em 1835, o temor de insurreição de escravizados aumentou em outras regiões do Brasil. O Rio Grande do Sul estava na rota interna do tráfico de escravos africanos, que desembarcavam nos portos do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. No início do século 19, as charqueadas na região de Pelotas demandavam muita mão de obra.
Os africanos ocidentais não eram maioria no mercado de escravizados no Brasil, mas estavam marcados após o levante dos nagôs islâmicos, conhecidos como malês, na Bahia. No início de 1848, um plano para "matar brancos" e fugir das charqueadas foi descoberto em Pelotas. A história é contada no livro Africanos Minas-Nagôs no Rio Grande do Sul: Séculos XVIII, XIX e XX (Oikos Editora), organizado pelos historiadores Marcelo Santos Matheus e Miquéias Henrique Mügge.
Em 5 de fevereiro de 1848, o delegado José Alves Vianna foi comunicado sobre um plano de fuga de escravizados para a Serra de Tapes, região de quilombos. A insurreição dos negros ocorreria no dia seguinte, um domingo. Menos de uma semana depois, a imprensa relatou que o plano fora sufocado e as lideranças, presas.
Procópio, escravo mina de Luiz Manoel Ribeiro, revelou o plano em troca da alforria, paga pelo delegado Vianna, rico charqueador pelotense. Os negros envolvidos tinham a nuca raspada, forma de reconhecer quem participaria da revolta. Os cativos de dois charqueadores acabaram presos. Na publicação, o historiador Jonas M. Vargas relata que falta consenso sobre o número de envolvidos, mas oscilaria de 30 até 300.
Os escravizados oriundos do Golfo do Benim eram denominados "minas", "nagôs" ou "minas-nagôs". Eles também estavam em outras regiões do Estado. Em Porto Alegre, por exemplo, trabalharam no comércio, como as quitandeiras.
— Buscamos desmistificar a imagem de que todos os africanos eram iguais. O estudo das características de cada região ajuda a entender a nossa própria cultura — explica Mügge.
O livro é fruto de um projeto coletivo de longo prazo para estudo da presença de africanos ocidentais escravizados e libertos no Rio Grande do Sul. Além do plano de revolta de 1848, aprofunda a análise do tráfico transatlântico e interprovincial, busca de liberdade, práticas sociorreligiosas e as relações de escravizados, indígenas e europeus.