O Grêmio Esportivo Renner encerrou as atividades há 65 anos. As façanhas do clube no Estádio Tiradentes e em outros gramados ficaram na história do futebol gaúcho. Em 7 de março de 1959, o time porto-alegrense venceu por 2 a 1 amistoso contra o Guarany, em Cachoeira do Sul. Quatro dias depois, o empresário A.J. Renner comunicou à imprensa o fim do time campeão gaúcho de 1954.
A trajetória do clube começou após mobilização de funcionários da indústria têxtil A.J. Renner que queriam jogar futebol. Os industriários fundaram, em 27 de julho de 1931, o Grêmio Sportivo de Funcionários da Firma A.J. Renner. O primeiro presidente foi Victor Gottschald.
A diretoria optou por mudar o nome para Grêmio Sportivo Renner um ano depois. As cores branca e vermelha da camiseta foram inspiradas no Bangu, time de origem fabril do Rio de Janeiro. O primeiro campo ficava ao lado do depósito de lã da fábrica no bairro Navegantes. O terreno era de terra batida, duro e irregular. Os primeiros adversários foram empregados de outras fábricas da região.
Depois do dono da fábrica, A.J. Renner, ficar espantado com as péssimas condições do campo da Rua São José (atual Rua Frederico Mentz) e prometer ajuda aos funcionários, o estádio da Avenida Sertório foi inaugurado em 15 de novembro de 1935. O Renner venceu o Taquarense, de Taquara, por 5 a 0.
Depois das fases de futebol classista e amador, o Renner se profissionalizou em 1942. Mesmo assim, jogadores também trabalhavam na fábrica ou na loja, mantendo jornada dupla. Os treinos ocorriam no início de noite.
O maior título foi de campeão gaúcho de 1954. O Renner, campeão Citadino, superou o Ferro Carril, de Uruguaiana, e o Brasil de Pelotas no campeonato estadual, disputado no início de 1955. O time tinha nomes como Valdir de Moraes, Ênio Andrade e Breno Mello.
Na noite de 11 de março de 1959, o empresário A.J. Renner, presidente honorário do clube, enviou à imprensa comunicado sobre o encerramento das atividades profissionais, o que já era especulado nos jornais. A Folha Esportiva publicou no dia seguinte o texto que surpreendeu jogadores e a torcida rennista:
“Em vista do noticiário da imprensa local sobre a exclusão do G. E. Renner do campeonato profissional da cidade, desejamos prestar alguns esclarecimentos ao público.
É preciso que se diga que o recuo da Avenida Sertório em quatro metros, atingindo o atual estádio do clube, não é o único motivo desta decisão. Podemos adiantar que esta particularidade também é importante, porque representa uma diminuição sensível na capacidade do estádio, determinando arrecadações menores, e que vem agravar os fatores que os levaram a tomar tal atitude e que muito nos entristece.
Destacamos entre estes fatores, o desvirtuamento das finalidades do Grêmio Esportivo Renner, mesmo com o nosso beneplácito, nestes últimos 15 anos. Nascido do ideal de um grupo numeroso de funcionários da empresa, não titubeamos em dar amplo apoio à iniciativa pois dotaria a coletividade a prática dos esportes amadoristas, objetivo maior de sua fundação. Mais tarde, como decorrência do próprio sucesso no setor amadorista, ingressou o clube no football profissional, conquistando em tal categoria memoráveis e espetaculares lauréis, entre eles o próprio campeonato Citadino e Gaúcho.
Acontece, também, que a empresa vinha arcando, anualmente, com o “déficit” do clube, o qual se agravava de ano para ano como decorrência das constantes exigências do football profissional e que, no último ano, atingiu somas muitíssimo elevadas e que não mais se enquadravam nos fins a que estavam sendo canalizadas. Tais subsídios, em nosso entender, constituíam um privilégio que os demais clubes não possuíam, o que não nos parece justo.
Dessas quantias apenas uma importância irrisória era aplicada nos esportes amadoristas, verdadeiro motivo que se desejava alcançar quando da fundação do clube.
Não temos nenhuma intenção - como de resto nunca tivemos - de usar o clube com finalidade publicitárias, pois sempre entendemos que tal recurso não se enquadrava em nossos princípios de ética.
Dentro desses pontos de vista a empresa entendeu que era excessiva a soma que estava despendendo com o futebol profissional, em detrimento da prática dos esportes amadoristas, que beneficiará um maior número de nossos colaboradores.
Não são apenas os demais associados que estão sentindo o impacto dessa decisão. Nós também somos vulneráveis ao pesar que a todos dominou em face dos acontecimentos. Entretanto, temos que encarar a situação com base na realidade. E esta realidade, infelizmente, não nos leva a outra decisão.
Porto Alegre, 11 de março de 1959
A.J. Renner - diretor presidente"
O Grêmio Esportivo Renner saía dos campos para ficar na memória. O antigo Estádio Tiradentes, na esquina das avenidas Farrapos e Sertório, virou um condomínio residencial. A história do clube está contada em detalhes no livro G. E. Renner - O Cometa Eterno, de Luis Carlos Macchi e Vítor Vasata (Libretos).
Ouça entrevista de Luis Carlos Macchi na Rádio Gaúcha: