Quando a turma das caixas de som permite, o barulho predominante na praia vem do mar. O repetitivo e inconfundível som das ondas chegando na faixa de areia remexe nas nossas memórias. Lembranças de momentos bons, talvez da infância.
Além do mar, a praia é cenário de outros sons que nos remetem ao passado. Não tem barulho mais clássico do que a buzina dos vendedores de picolé. Empurrando carrinhos de duas rodas, eles cruzam a praia, indo e voltando, esperando o grito que uma criança atrás. O picolezeiro pode até ter uma voz forte para gritar ou usar uma chamativa fantasia de super-herói, mas nada desperta tanto a vontade de comer um picolé como aquela buzina. De longe, todos embaixo dos guarda-sóis sabem que o vendedor está por perto.
Nas ruas dos balneários, o apito do amolador ou afiador de facas e tesouras também é originalíssimo. Ninguém fica em dúvida. Se uma faca está sem fio, chegou a hora de arrumar. Nas últimas férias, ouvi o som estridente entre os grandes prédios de Capão da Canoa. Aliás, lá, todos os veranistas já estão acostumados com um outro som, mais moderno, dos carros em desfile para anunciar um parque aquático.
Se é para lembrar dos veículos nas ruas do litoral gaúcho, não posso esquecer dos caminhões carregados de frutas, verduras, ovos e outros produtos coloniais. Pelo anúncio no alto-falante, a clientela é alertada e sai correndo de casa para fazer as compras.
O grito dos vendedores de puxa-puxa é outro clássico das praias. Em alguns casos, nem precisam da matraca, um instrumento que ajuda quem vende estes e outros doces.
Nos meus verões das décadas de 1980 e 1990, os sábados de tarde não eram sábados de tarde sem o grito dos jornaleiros de Zero Hora, que passavam anunciando a chegada a edição dominical. É até difícil de reproduzir em texto como alongavam as duas palavras que formam o nome do jornal. Certamente, vocês também recordam.
Sei que esqueci de alguns sons tradicionais da praia, mas talvez ainda estejam nas lembranças de vocês.