Uma brizoleta reformada na serra gaúcha preserva a história de professores e estudantes do passado. No Centro de Exposições e Congressos ExpoGramado, o visitante se surpreende com a casinha de madeira, de paredes cor-de-rosa. A inciativa foi da prefeitura de Gramado e da Gramadotur, autarquia que promove o turismo na cidade.
Construídas quando Leonel Brizola era governador gaúcho, as escolas, popularmente chamadas de brizoletas, chegaram aos pontos mais longínquos. A escolinha recuperada ficava na Serra Grande, no interior de Gramado. Até 1982, abrigou turma multisseriada da Escola Municipal Flores da Cunha. Depois do fechamento do colégio, virou ponto de encontro das mulheres da comunidade para práticas de remédios caseiros e chás medicinais. Sem atividades desde 2000, estava fechada.
Após minucioso trabalho de desmontagem, a velha brizoleta foi remontada neste ano. Com nova pintura, na cor original, parece novinha em folha. O prédio tem apenas uma sala, além da despensa. As pequenas brizoletas tinham em um mesmo ambiente as aulas e a cozinha. O banheiro era um anexo ao prédio.
A brizoleta de Gramado sediou neste ano a Escolinha Rural, uma das atrações da Festa da Colônia. A gestora da Festa da Colônia, Paula Kohl, conta que também foram resgatados móveis, livros e outros materiais para reproduzir uma escola do passado. Crianças puderam ver como era o colégio na época dos pais ou avós. Os adultos recordaram da infância.
A brizoleta recebe algumas atividades de um programa de artes da Gramadotur. Não fica aberta à visitação o ano todo. O público precisará esperar a próxima edição da Festa da Colônia, em 2024, para conhecer o interior da escolinha.
A montagem no Expogramado ocorreu no mesmo local ocupado por outra brizoleta, destruída em incêndio em 2014.
O que é uma brizoleta?
Brizoleta é o nome popular das escolas construídas no governo de Leonel Brizola (1922-2004) no Rio Grande do Sul. Na gestão de 1959 a 1963, com a meta de "nenhuma criança sem escola", ele comandou a construção dos colégios em cidades e áreas rurais. Em filme do acervo do Arquivo Nacional (abaixo) , de 1962, é possível ver a forma de construção. Intitulado "Panorama de uma Administração", apresenta as realizações do governo.
Em 1959, 714 mil crianças de 7 a 14 anos estavam matriculadas no ensino primário em escolas estaduais, municipais e particulares gaúchas. Pela falta de vagas, 288 mil estavam fora da escola. Com a meta de erradicar o analfabetismo infantil, a gestão criou a Comissão de Prédios Escolares (CEPE) e o Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (SEDEP), atuando em parceria com prefeituras.
Em 1963, o jornal Diário de Notícias publicou o balanço da campanha "Nenhuma criança sem escola". Em quatro anos, foram construídas ou ampliadas 5.254 escolas primárias, permitindo 550 mil novas matrículas. No período, foram contratados 20 mil professores.