Em 15 de março de 1956, o desabamento do forro do Café Metrópole deixou seis feridos no centro de Porto Alegre. Sobre as cabeças de clientes, caíram partes do piso do primeiro andar do Edifício Malakoff, que estava dando seus últimos suspiros. Por sorte, foram apenas ferimentos leves. O episódio acelerou o processo para demolição do primeiro "arranha-céu" da capital gaúcha.
Pela análise dos bombeiros, a causa do acidente estava clara: o apodrecimento das madeiras, não suportando o peso. Poucos meses depois, a prefeitura de Porto Alegre ingressou com ação contra os proprietários para a demolição devido ao péssimo estado de conservação. O edifício oferecia risco para vizinhos e pedestres. Em frente, o terminal dos bondes da Praça XV de Novembro precisou ser interditado. A administração municipal pediu a citação judicial dos 11 proprietários e dos inquilinos.
Com o térreo e três andares, o Malakoff era colossal na comparação com as casas baixas do centro na segunda metade do século 19. Quando foi construído o "gigante"? Em livros, encontraremos citações de conclusão em 1860 e 1868. Recorro à pesquisa do médico Ronaldo Bastos, pesquisador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS). Ele aponta que as "atas da Câmara Municipal de Porto Alegre mostram que até o início de 1863 aquela área onde se ergueu o Malakoff não passava de um terreno devoluto que servia para despejo de lixo e detritos". Naquele ano, o açoriano João Batista Soares da Silveira e Souza, o comendador Batista, começou a obra, concluída em meados de 1868.
Bastos escreveu que o prédio era de uma "arquitetura muito simples ao estilo barroco-colonial", mas na reforma, em 1905, foram acrescentados "alguns elementos arquitetônicos neoclássicos". O comendador Batista foi importante construtor da cidade, com obras como a Ponte de Pedra do Riacho, no atual Largo dos Açorianos, e o Theatro São Pedro.
O nome do prédio foi inspirado na Guerra da Crimeia (1853-1856). O renomado escritor Aquiles Porto-Alegre (1848-1926) escreveu que o povo comparou a torre de Porto Alegre à torre Malakoff, ponto de resistência russa em Sebastopol.
Em 19 de fevereiro de 1948, quando grande incêndio atingiu o prédio, o Malakoff porto-alegrense era pequeno diante de outros gigantes erguidos no Centro no século 20. O Edifício Guaspari já estava ao lado. Como era um pouco mais alto, os bombeiros subiram ao último andar para jogar água sobre o velho imóvel. Em 1949, princípio de incêndio voltou a atingir o Malakoff, nos fundos da loja Irmãos Cauduro.
O térreo do prédio era usado para comércio. Nos outros andares, existiam apartamentos e escritórios. Em 1884, por exemplo, o leiloeiro Ernesto Paiva ocupava a sala 3 do primeiro andar. Em 1940, a firma Fonseca & Dulac, representante do Formicida Pyroforme, ficava na sala 1. Em noticiários dos jornais, não era raro encontrar o edifício citado como endereço de criminosos presos na capital.
O Malakoff foi derrubado em 1957. Com a manchete "Resistiu até o último cartucho o vetusto e horrendo Malakoff", o Jornal do Dia publicou em 3 de abril que "afinal vai ser demolido o Malakoff ... já vai tarde, segundo opinião generalizada dos porto-alegrenses". A demolição fazia parte de um projeto maior, aprovado pelo Conselho do Plano Diretor, para modernização da Praça XV.
Em 12 de maio de 1957, o Diário de Notícias confirmou que estavam colocando abaixo o Malakoff: "Ninguém nesta mui leal e valorosa Porto Alegre, poderá desconhecer o Malakoff, o primeiro edifício construído na capital rio-grandense. Depois que a cidade cresceu, ele se tornou pequeno e escondido. Mas ninguém que viesse tomar um bonde no Abrigo da Praça 15 deixava de admirar o velho casarão. O progresso foi demolindo o casario, mas o Malakoff resistia à marcha do Tempo. Até que chegou a sua vez! O antigo casarão foi condenado. Hoje, quem passa por ali assiste à faina da destruição. O Velho Malakoff vai abaixo."
Em 1959, na edição 734, a Revista do Globo publicou foto do terreno vazio ao lado do Edifício Guaspari. No local do primeiro "arranha-céu" de Porto Alegre, está o Edifício Delapieve, colado no Edifício Guaspari.