
Na segunda metade do século 19, os porto-alegrenses tinham um lugar certo para confraternizar e se divertir no atual coração político da Capital: a Sociedade Bailante, localizada na Praça da Matriz, onde, hoje, está a sede da Assembleia Legislativa. “Dançar polcas, valsas, mazurcas (tradicional dança polonesa) e xotes era o ponto máximo do lazer na época”, destaca Hélio Ricardo Alves, no livro Porto Alegre Foi Assim (Editora Sagra Luzzato, 2001). Sob a direção de uma associação privada, além de salão de bailes, o espaço abrigava concertos de flauta e cítara, saraus poéticos e reuniões comerciais e governamentais.
O prédio de estilo neoclássico, com fachada provida de pilastras e frontão – projeto arquitetônico do alemão Philip von Norman, idealizador também do Theatro São Pedro e da Igreja do Menino Deus –, foi construído pelo português João Batista Soares da Silveira e Souza, o comendador Batista, considerado o primeiro grande empreiteiro de Porto Alegre (entre outras construções, ergueu o Edifício Malakoff, de 1868, tido como primeiro arranha-céu da cidade, embora contasse apenas com três andares, além do térreo).
Pouco antes de ser inaugurada, em 1850, a Sociedade Bailante mereceu elogios explícitos do então presidente da província, general Francisco José Soares Andréa, ao transmitir o cargo ao sucessor, José Antônio Pimenta Bueno: “Vossa Excelência tem à vista uma muito boa casa de baile, para cujo fim concedi as 10 braças de terreno em que está concluída”, afirmou Andréa, como é citado por Sérgio da Costa Franco em Porto Alegre, Ano a Ano – Uma Cronologia Histórica (1732/1950) (Letra&Vida, 2012).
No discurso, o general destacou ainda que, em conjunto com os prédios do Theatro São Pedro (aberto em 1858) e da Câmara Municipal (inaugurado em 1874, onde, hoje, se encontra o Tribunal de Justiça do Estado), a Praça da Matriz ficaria “ornada de três edifícios de elegante gosto”. Há que se mencionar ainda a sede da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, que, situada na esquina da Rua Duque de Caxias, também passaria a compor o cenário da praça a partir de 1866. Na preparação dos alicerces para a construção da atual sede do parlamento estadual, na década de 1960, foram descobertos tanques subterrâneos com capacidade de 500 litros, pertencentes à antiga hidráulica.
Na Sociedade Bailante, eram feitas apresentações da Orquestra Filarmônica Porto-Alegrense, com espetáculos chamados de soirée-classique. Igualmente, a sétima arte se fazia presente: “Logo depois da invenção dos irmãos Lumiére, o cinema chegou aqui com o filme Paraíso no Rio, que, depois de exibido no Theatro São Pedro, foi repetido na Bailante”, registrou Alves. A Bailante também sediou reuniões do Partenon Literário e foi palco de grandes discussões políticas, sobretudo, no período que antecedeu a abolição da escravatura e a proclamação da República, ao final dos anos 1890.
Na década de 1920, já em franca decadência, a Bailante saiu de cena, quando o intendente Otávio Rocha determinou a demolição do prédio para a construção do Auditório Araújo Vianna. Com isso, os concertos da Banda Municipal, antes realizados em um coreto da Praça da Alfândega, foram transferidos, em 1927, para a nova concha acústica, com 400 bancos, ao ar livre, na plateia. Nos anos 1960, o próprio auditório, em sua primeira versão, desapareceria para a construção do Palácio Farroupilha (em 1964, o novo Araújo Vianna foi aberto no Parque da Redenção).