Em 29 de março de 1973, Zero Hora chegou às bancas e às casas dos assinantes com uma capa histórica. A manchete "Incêndio não parou jornal" resumia o drama e a superação da noite anterior na sede do Grupo RBS na Avenida Ipiranga. Por volta das 19h45, em meio à correria da redação para finalizar a edição, a jornalista Célia Ribeiro viu as chamas do andar inferior que avançavam pelo lado externo, junto à janela mais próxima da sua mesa. Imediatamente, gritou: "fogo! incêndio!". Em pouco tempo, funcionários começaram a desocupar o edifício.
Um grupo ainda tentava salvar equipamentos pesados, incluindo aparelhos de telex e fotografia. No alto-falante para comunicação interna, a telefonista alertava repetidas vezes: "atenção, pessoal da redação, saiam imediatamente da sala." A portaria ligou para os bombeiros, que voltaram a ligação ao jornal para saberem se não era um trote. Caminhões de três estações se deslocaram para combater o fogo.
Três funcionários que inalaram fumaça precisaram de atendimento médico, mas ficaram bem. Renato Pinto da Silva, editor de polícia de ZH; Celestino Valenzuela, editor de esportes da Rádio Gaúcha; e Telmo Curcio da Silva, chefe da fotografia, foram levados ao Hospital de Pronto Socorro (HPS).
Na esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo, a curiosidade juntou uma multidão. O incêndio também gerou uma corrente de solidariedade. Antes mesmo da contenção do fogo, equipes de ZH foram à redação do Jornal do Comércio, na Avenida João Pessoa, onde refizeram a edição do dia seguinte. A histórica foto da capa é do fotógrafo Ricardo Chaves, o Kadão, que na época trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil em Porto Alegre. Quando soube que os colegas de ZH estavam trabalhando no Jornal do Comércio, foi até lá para oferecer as fotografias. Na foto publicada na capa, Kadão ainda conseguiu fotografar o cubo de acrílico, com logotipo da Zero Hora, antes de derreter com o calor.
A maior destruição ocorreu no primeiro andar do edifício, onde o fogo começou. No segundo, as chamas destruíram a redação de ZH e o estúdio improvisado da Rádio Gaúcha, que estava na Avenida Ipiranga desde o incêndio do ano anterior no prédio da TV Gaúcha no Morro Santa Tereza.
Do prédio em chamas, o jornalista Cláudio Brito recorda das labaredas na janela. Conta que foram logo para a rua, pensando em como colocar a rádio novamente no ar. Em uma Rural Willys, subiram o morro em direção à sede da TV Gaúcha.
A Rádio Gaúcha ficou 2h15 fora do ar, retomando a operação em caminhão de transmissão do Canal 12. Mendes Ribeiro, Celso Ferreira, Samuel Souza e Cláudio Brito anunciavam que a emissora estava de volta e relatavam detalhes do incêndio no edifício de ZH. Do Morro Santa Tereza, viam as chamas na Avenida Ipiranga.
No dia seguinte, quando jornalistas puderam voltar ao segundo andar de ZH, um alívio ao descobrirem que o fogo não destruiu todo o arquivo, preservando acervo de jornais e negativos de fotos. A diretoria e departamentos comercial, jurídico e contábil passaram a operar no Edifício Santa Cruz, no Centro Histórico. A redação do jornal ficou provisoriamente no antigo prédio de Zero Hora na Rua Sete de Setembro. A gráfica não foi atingida, permitindo a continuidade da impressão do jornal na Avenida Ipiranga.
A noite de 28 de março de 1973 ficará para sempre lembrada pela superação das equipes de Zero Hora e Rádio Gaúcha.