Liberada pela prefeitura de Porto Alegre, a construção do prédio mais alto da cidade vai preservar estrutura de antiga indústria do 4º Distrito. O complexo do Moinhos Germani foi inaugurado em 1941, depois de dois anos de obras na esquina das ruas Emancipação e Sete de Abril, no bairro Floresta. A fábrica de farinha fez parte do império construído por um imigrante italiano, que chegou sem dinheiro e cheio de sonhos a Caxias do Sul em 1885.
Inquieto, o jovem Aristides Germani foi um incentivador da cultura tritícola e da industrialização no Brasil. O italiano, nascido em 1863 na província de Cremona, precisou convencer muita gente sobre a viabilidade de plantar trigo para fazer farinha na serra gaúcha. Primeiro, trabalhou em moinhos já estabelecidos na cidade, que operavam com milho e centeio.
Depois de casar com Marieta Mainardi, com quem teve 16 filhos, comprou área da cascata do Arroio Marquês do Herval (Arroio Tega) em 1891. Em seguida, construiu o Moinho Ítalo-Brasileiro, o popular Moinho da Cascata. A fábrica recebeu um prédio novo em 1905, substituindo o primeiro, feito de madeira. Com a formação de uma represa, montou usina hidrelétrica. Por telefone à manivela, acionado em um quiosque na praça no centro de Caxias do Sul, era possível fazer encomendas de farinha.
Quando ficou sabendo onde seria a estação férrea de Caxias, Aristides Germani comprou os terrenos em frente e começou a construir prédio para outro moinho, com moagem a cilindro. O engenheiro eletrônico Higino Germani conta que o avô assinava uma revista técnica, que levava em torno de seis meses para vir da Itália, onde leu sobre a novidade dos moinhos a cilindro. A nova fábrica foi inaugurada em 1928. A energia elétrica saía da usina do Arroio Marquês do Herval por uma linha de alta tensão.
Em 1939, a família Germani começou a construir um moinho em Porto Alegre. Aristides morreu em 5 de agosto de 1941. Não chegou a acompanhar a bem-sucedida operação da nova indústria na capital gaúcha. Os filhos, liderados pelo primogênito Alfredo, expandiram os negócios.
O Moinhos Germani foi instalado com maquinário que ocupava apenas um terço do prédio. Na década de 1950, foram compradas máquinas que lotaram a fábrica de farinha na Rua Sete de Abril. Dentro do prédio, ficavam dois moinhos: um com maquinário italiano e outro alemão. Higino afirma que ambos produziram, durante décadas, a melhor farinha de trigo do Rio Grande do Sul.
- A farinha de semolina era como um talco e muito disputada por padarias e doceiras. O moinho vendia farinha em pacotes de um quilo em papel celofane, especialmente para doceiras e para quem fazia pão em casa em fogões à lenha. O Moinhos Germani nunca fez publicidade, pois vendia toda a produção. O importante era manter a qualidade - relembra o neto do fundador.
No início da década de 1990, considerando cenário econômico e a necessidade de pesados investimentos, os descendentes da família optaram por encerrar atividades dos moinhos em Porto Alegre e Caxias do Sul, além de uma fábrica de ração na capital gaúcha. O prédio do moinho em Porto Alegre foi vendido. A marca Germani também foi negociada, continuando no mercado com outros donos.
O antigo Moinhos Germani, inventariado pela prefeitura de Porto Alegre, será preservado em um projeto para construção do prédio mais alto da cidade, com 117 metros de altura e 35 andares. Serão mais de 20 mil metros quadrados de área construída. A empresa Bewiki espera começar as obras em 2023.