Na tarde de 2 de agosto de 1949, chegaram a Porto Alegre as primeiras notícias sobre a queda de avião da Varig na serra gaúcha. Pela boataria, todos ocupantes estavam mortos no acidente ocorrido horas antes. O piloto de outra aeronave, que sobrevoava a região, enviou a localização dos destroços do Curtiss C-46, prefixo PP-VBI. A viagem, que começou no Rio de Janeiro e fez escala em São Paulo, transportava cinco tripulantes e 30 passageiros, a maior parte estudantes que voltavam de um congresso. Depois de incêndio no ar, o avião da Varig não chegaria à capital gaúcha, o destino final.
Quando cruzava a divisa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o passageiro Antônio Leite da Costa, filho do ministro da Justiça Adroaldo Mesquita da Costa, chamou o comissário de bordo para relatar cheiro fumaça. Imaginava que poderia ser a ponta de um cigarro. Em pouco tempo, comandante Goetz Georg Herzfeldt descobriu que o porão de bagagens estava em chamas.
O piloto ordenou que os passageiros apertassem os cintos, porque tentaria fazer um pouso forçado. Nem todos obedeceram. O pânico tomou conta dentro da aeronave que sobrevoava Jaquirana, que na época pertencia ao município de São Francisco de Paula.
Em uma região de terreno acidentado, o experiente comandante e o piloto Erwin Wendorff visualizaram uma área de campo na localidade de Três Irmãos e aterrissaram de barriga, sem o trem de pouso, por volta de 14h15. Com o fogo e o choque, a aeronave ficou muito destruída. Evitando a explosão no ar, a tripulação salvou a vida da maioria dos ocupantes. O socorro foi prestado inicialmente por moradores das fazendas da região.
O telefone mais próximo ficava a 70 quilômetros de distância. As estradas ruins também atrasariam o resgate. No livro Jaquirana: um pequeno resgate, Vanete Pereira Nunes descreve como a comunidade ajudou os sobreviventes. Sem remédios, as pessoas usaram banha para cobrir os ferimentos de queimaduras. Deitados em pelegos, pedaços de panos e cobertores, os feridos foram transportados em um caminhão e uma camionete até Jaquirana, distante 18 quilômetros do local da tragédia. O Hotel Familiar virou um hospital improvisado.
A telefonista da central de São Francisco de Paula não dava conta das ligações de familiares em busca de informações. Morreram cinco ocupantes do avião da Varig: o comissário João Motta Ferreira, 23 anos; Antônio Leite da Costa, 19 anos, estudante de agronomia e filho do ministro da Justiça; o comerciante Jacob Millman, 50 anos; a professora e estudante de odontologia Sophia Cantergi Clerman, 27 anos; e Ary Nathaniel Cunha, 18 anos, estudante do Colégio Rosário. De acordo com o Jornal do Dia, 25 pessoas precisaram de hospitalização em Porto Alegre e Caxias do Sul.
Em meio a repercussão da tragédia, todos queriam saber o que provocou o incêndio durante o voo. Em nota divulgada na época, a Varig descartou curto-circuito. Como o fogo começou no porão das bagagens, na parte traseira, a companhia levantou a suspeita do rompimento de algum frasco com líquido que entrou em combustão devido ao calor.
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