A paixão política não é novidade no Brasil. Sempre vivemos com divergências, baixarias, brigas familiares e até crimes, inclusive nos períodos sem eleição no império e na república. O senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, por exemplo, foi assassinado com uma punhalada pelas costas no Rio de Janeiro. Nos nossos campos, o sangue das degolas marcou tempos tristes da política rio-grandense. Getúlio Vargas cometeu suicídio e gerou a revolta de seus apoiadores contra os opositores.
O que a eleição presidencial de 2022 tem de histórico? É a idolatria, impulsionada pelas redes sociais. O Brasil tem dois candidatos no segundo turno que são amados por milhões e odiados por outros tantos milhões. Desde a redemocratização, não tivemos um embate com políticos tão populares.
Mesmo superando nomes relevantes em 1989, a popularidade de Fernando Collor de Mello foi como um voo de galinha. Ninguém lotou as ruas para tentar evitar o impeachment. Fernando Henrique Cardoso permaneceu oito anos no Palácio do Planalto por reconhecimento do fim da hiperinflação após o Plano Real. Nas eleições do início deste século 21, Luís Inácio Lula da Silva venceu já com a idolatria da esquerda. Conseguiu, inclusive, eleger a sua ministra Dilma Rousseff como sucessora.
Em 2002, 2006, 2010 e 2014, os candidatos José Serra, Geraldo Alkmin e Aécio Neves, todos do PSDB, chegaram ao segundo turno contra Lula e Dilma. Os tucanos conquistaram mais votos pela oposição aos petistas do que pela própria popularidade. Durante os últimos dois governos do PT, em trabalho de formiguinha, o então deputado federal Jair Bolsonaro percorria o Brasil, conquistando admiração de eleitores de direita. Capturou o sentimento de muitos brasileiros que não se viam representados por petistas e tucanos, que monopolizavam as disputas.
Em 2018, depois do impeachment de Dilma e do governo tampão de Michel Temer, Bolsonaro surpreendeu muitos especialistas e venceu a eleição. Não foi só um voto contra o PT, representado na disputa por Fernando Haddad. Bolsonaro conseguiu, à direita, o que Lula já tinha à esquerda.
A idolatria é diferente da simples admiração, o que é mais comum na política. Quando o ídolo fala, o ferrenho eleitor recebe como a verdade pura. Todo o resto está errado. É um dos motivos para acreditarem tanto nas fake news.
Diante da disputa de dois políticos tão populares, independente do resultado, o Brasil terá no início da noite de domingo uma grande festa e, do outro lado, a insatisfação e até a revolta. Como em um clássico na final de um campeonato de futebol, os torcedores derrotados culparão a desonestidade do adversário, o juiz e o gramado.
A democracia permitirá que seu time, ou candidato, dispute e vença a próxima eleição.
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