O tempo voa e o monumento dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana vai completar 21 anos na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre. Não pode ser só comigo, mas parece que foi ontem a inauguração do banco e das estátuas em bronze. Lamentavelmente, são duas décadas de repetidos atos de vandalismo. O mais recente foi com tinta amarela, jogada sobre a obra.
As esculturas foram inauguradas na abertura da 47ª Feira do Livro de Porto Alegre em 26 de outubro de 2001. O professor Paulo Flávio Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro na época, lembra que a ideia das estátuas surgiu, no início daquele ano, em um almoço promovido pelo bibliófilo Waldemar Torres. Entre tantos monumentos na Praça da Alfândega, nenhum fazia referência ao livro, que dá tanta vida ao local todos os anos.
Para marcar o centenário de Carlos Drummond de Andrade, nascido em 1902 e falecido em 1987, o mineiro foi escolhido para ocupar um lugar de destaque na capital gaúcha. O amigo Mario Quintana não poderia ser esquecido. O poeta gaúcho tinha por hábito descansar e observar o movimento da Rua da Praia nos finais de tarde, sentado em um dos bancos da praça.
A obra é resultado do trabalho talentoso de Xico Stockinger e Eloisa Tregnago. Ledur recorda que, desde o início, o plano foi desenvolver um monumento interativo. As pessoas teriam o privilégio de fazer companhia aos poetas, quem sabe até ler para os escritores. Na representação, Mario Quintana ficou confortavelmente sentado. O amigo Drummond está em pé e segurava um livro, que acabou furtado.
No livro A Escultura Pública de Porto Alegre - obra comemorativa Porto Alegre 250 Anos, o historiador de arte José Francisco Alves explica que as esculturas foram moldadas em barro. Depois de preparadas cópias das fôrmas no ateliê Vila Nova, de Stockinger e Tregnago, a fundição em bronze foi realizada na Fundiarte, em Piracicaba, interior paulista.
O Grupo Gerdau, que comemorava o centenário em 2001, patrocinou as estátuas. Originalmente, o Monumento à Literatura, nome oficial, estava em uma área mais interna da praça. Durante revitalização da área, foi transferido para ficar alinhado aos outros bancos, junto à Rua da Praia.
Na inauguração, em 2001, Elena Quintana parafraseou um verso bem-humorado do tio: "o ruim de virar estátua é não poder se coçar". Depois de duas décadas, eu acrescentaria: nem se defender dos estúpidos vândalos.
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