Heitor Déste era capitão do time e diretor do Sport Club Americano, de Porto Alegre, no início da década de 1930. Como outros jogadores da época, apitava partidas de outras equipes da cidade. Sim, jogava em um time e era árbitro de jogos dos adversários, inclusive no mesmo campeonato.
O lendário goleiro gremista Eurico Lara, por exemplo, também fazia o papel de juiz de futebol paralelamente à carreira de atleta. É algo inimaginável no futebol de hoje. As primeiras décadas do esporte também foram marcadas pela paixão. Ocorriam brigas em campo. E, é claro, o juizão não escapava das críticas.
Heitor Déste foi escalado para apitar uma partida muito aguardada na capital gaúcha. O selecionado do Paraná veio para amistosos contra Internacional e Grêmio em 1931. Os paranaenses venceram o colorado por 4 a 1 no Estádio dos Eucaliptos, no Menino Deus, no dia 15 de novembro. Os visitantes voltaram a entrar em campo quatro dias depois no Estádio da Baixada, no Moinhos de Vento. Perderam por 3 a 1 para o tricolor na primeira partida de futebol do Rio Grande do Sul com transmissão radiofônica, feita pela Rádio Gaúcha.
Os cronistas esportivos criticaram a atuação do árbitro na partida do Internacional contra os paranaenses. Heitor Déste não deixou por menos e enviou uma carta ao jornal A Federação, contestando opiniões publicadas no Correio do Povo e no Jornal da Manhã. No texto, ele se defende das reclamações por anular gols. Escreveu que não poderiam responsabilizá-lo pela derrota do Internacional e que deveriam culpar "seu quadro pela falta de combinação e jogo pessoal de seus componentes". Déste encerra a carta prometendo não apitar mais.
Apesar da ameaça de desistir, Déste continuou atuando como árbitro. Pela crônica daquele jogo de 90 anos atrás, dois gols foram anulados. Ele marcou faltas nos lances antes da bola balançar a rede. Quem estava certo? Não sei. Com ou sem VAR, nunca foi fácil a vida de juiz de futebol.
Leia abaixo a carta publicada na íntegra no jornal A Federação: